Li na National Geographic deste mês (edição portuguesa) uma excelente reportagem sobre «uma ideia que floresce em cidades de todo o mundo: aproveitar centenas de coberturas para criar espaços verdes». No artigo assinado por Verlyn Klinkenborg, defende-se a cobertura biológica, também designada como cobertura ajardinada, como um meio eficaz para «reduzir o escoamento das águas pluviais, para aumentar a eficiência energética e para melhorar a paisagem urbana».
Como refere o autor «estas coberturas recordam que os sistemas biológicos naturais são uma importante força moderadora. No verão, as temperaturas diurnas nas coberturas convencionais de alcatrão podem subir até 65º C, contribuindo para o efeito global de ilha de calor humana – a tendência demonstrada pelas cidades para serem mais quentes do que a região circundante. Sobre as coberturas ajardinadas, a mistura de solo e vegetação funciona como isolante e as temperaturas sofrem níveis de flutuação mais moderados (pouco acima dos registados em parques ou jardins), reduzindo em 20% os custos de aquecimento e arrefecimento dos edifícios que lhes ficam por baixo».
Explicando melhor: «Uma cobertura ajardinada funciona da mesma forma que um prado, absorvendo a água, filtrando-a, abrandando-a e, até, armazenando alguma para utilização futura. Em última análise, isso reduz a ameaça de ruptura de colectores, prolongando a vida dos sistemas de escoamento urbanos e restituindo água mais limpa à bacia hidrográfica da região».
Vários exemplos são dados e, entre outras, podem ver-se as fotografias da cobertura ajardinada que coroa o edifício da Câmara Municipal de Chicago, da cobertura verdejante de um prédio em Manhattan, da vegetação no topo de um hospital em Basileia, da horta que cobre o hotel Fairmont Waterfront, em Vancouver ou, para finalizar, da fachada lateral do Oceanário de Vancouver.
E em Portugal? Se a ideia já floresce por aqui – como prova a cobertura biológica da sede do Banco Mais, na Avenida 24 de Julho, a da Torre Verde da zona oriental de Lisboa ou a do Centro de Documentação e Informação da Presidência da República -, tenho sérias dúvidas que avance num futuro próximo. Razões para pensar assim? Queiram fazer o favor de ler este pequeno excerto da crónica que Luísa Schmidt escreve no semanário Expresso «Compensar o crime» e notem bem a mentalidade de quem nos governa:
Às avessas de toda a preocupação internacional, de todas as tendências comunitárias, de todo o espírito contemporâneo relativamente aos problemas ambientais e paisagísticos e contra o esforço dos nossos empresários mais evoluídos, o Governo decidiu reduzir as coimas por danos ambientais.
(...) A redução do montante das multas é afinal uma mentira que esconde uma verdade: a da subjugação da política ambiental à sobre-soberania de alguns grandes interesses que precisam que a sensibilidade pública ambiental não seja estimulada.
O que esta alteração na lei diz efectivamente não é que as multas passaram a ser mais leves. O que ela diz e rediz é que os valores ambientais não são assim tão importantes como as pessoas já acham que são. Ou seja, a sociedade não lhe deve dar tanto valor.