Nascido a 12 de Fevereiro de 1929, em Lisboa, numa família abastada da aristocracia portuguesa – a Casa de Lafões -, Nuno Bragança frequentou o curso de Agronomia e concluiu o de Direito em 1957. Numa vida curta mas bastante preenchida, merece especial destaque a sua integração no jornal Encontro (orgão da Juventude Universitária Católica), onde assinou os seus primeiros textos literários.
Nos anos 50, dedicou-se à crítica cinematográfica, fundando e dirigindo o Cine-Clube Centro Cultural de Cinema (entre 1956 e 1959). Foi, igualmente, fundador do Serviço Nacional de Emprego e fez parte do célebre movimento Catolicismo Progressista, mantendo uma imparável actividade cultural através da sua colaboração – onde também foi co-fundador – na magnífica revista O Tempo e o Modo, escrevendo inúmeros artigos onde assinou uns como Nuno Bragança e outros como Manuel Caupers.
Durante a década de 60, foi militante do Movimento de Acção Revolucionária e escreveu o argumento e os diálogos do filme-charneira do novo cinema português: Verdes Anos de Paulo Rocha. No período compreendido entre 1968 e 1972 instala-se em Paris, época em que publica o seu primeiro romance A Noite e o Riso e em que sente uma atracção pelas Brigadas Revolucionárias de Isabel do Carmo e Carlos Antunes. É por esta altura (1970) que participa na criação do documentário sobre a emigração, chamado Nacionalidade Português.
Após o seu regresso a Portugal, colabora com o grupo de teatro A Comuna, é assessor no Ministério do Trabalho (a seguir ao 25 de Abril) e faz parte, entre 1974 e 1985, do Grupo de Intervenção Socialista, formado por dissidentes do Partido Socialista.
Publica o seu segundo romance em 1977, intitulado Directa, seguido, em 1981, por Square Tolstoi e, três anos depois, pela colectânea de contos Estação. Toda a restante obra de Nuno Bragança é publicada após a sua morte, que ocorreu a 7 de Fevereiro de 1985.
A Dom Quixote aproveitou para celebrar os 80 anos do seu nascimento, publicando a sua obra completa; os romances A Noite e o Riso, Directa e Square Tolstoi, a colecção de contos intitulada Estação, a novela Do Fim do Mundo e, finalmente, a peça de teatro A Morte da Perdiz.
Nuno Bragança é, hoje, um autor quase desconhecido, mas a sua escrita mantém o vigor, a originalidade e o tecido inovador que fizeram da sua obra uma das mais admiráveis da segunda metade do século XX. A sua linguagem, simultaneamente surrealista, políticamente activa, autobiográfica e, por vezes, erótica, funcionou desde o seu início como contraponto ao prematuramente gasto e limitado neo-realismo, abraçando a literatura clássica norte-americana e explorando uma forte e singular ligação com a poesia, rejuvenescendo – por força da sua audácia, sinceridade e expressividade estílistica – a estrutura e os modelos estéticos da ficção nacional.
Um grande escritor da modernidade que nos deixou como legado uma breve mas importante obra que é muito mais do que um mero sublinhado artístico. Aproveitem a oferta.