Tem havido por aí muita (e justa) indignação pelas palavras ditas por Sua Santidade, o Papa Bento XVI, sobre a utilização do preservativo.
Concordo absolutamente com a indignação e sou favorável, naturalmente, a que a mesma se traduza em textos críticos que sirvam para alertar os mais incautos. Agora, não me tentem convencer que as afirmações de Ratzinger são uma surpresa.
É óbvio que considerar que «o uso do preservativo não resolve o problema da Sida, antes pelo contrário» só tem cabimento na mente de um anormal ou irresponsável, mas não era isso, mais palavra menos palavra, que o anterior Papa – o também hipócrita João Paulo II – dizia há 19 anos na Tanzânia? Talvez as pessoas já se tenham esquecido, mas não deviam. Foi naquele país (que, na altura, iniciara uma campanha pelo uso do preservativo como forma de prevenção da SIDA) que João Paulo II condenou oficialmente o uso daquele método contraceptivo a favor de uma «sexualidade consciente».
Atitude semelhante aconteceu com o caso do aborto da menina brasileira de 9 anos, quando Bento XVI defendeu e confirmou a excomunhão contra a mãe e os médicos que procederam ao aborto da menina engravidada e violada pelo padrasto – claro que, para a Santa Sé, pessoas como o padrasto têm sempre o seu lugar reservado nas orações e no seio da Igreja Católica.
Mas não era João Paulo II que, em plena guerra dos balcãs, defendia que as mulheres vítimas das maiores atrocidades, e que foram repetidamente violadas e engravidadas por soldados criminosos e irracionais, deviam dar à luz os frutos concebidos naquelas atrocidades e amá-los infinitamente? Isto só pode ser imaginável e aceitável na cabeça de outro anormal, claro.
A história repetiu-se e há-de repetir-se num futuro próximo ou longínquo, porque quem manda na Igreja – salvo as cada vez mais raras e honrosas excepções - é uma casta de gente hipócrita, criminosa, perversa e indecente que se «fecha» num retiro de vergonhoso fausto e riqueza e não se preocupa, nem um pouco, com aqueles que sofrem e vivem na maior pobreza, e que o Deus em que eles, obviamente, não acreditam, ensinou a ajudar.
Felizmente, os melhores exemplos vêm de dentro e, entre os católicos, muito poucos serão aqueles que ainda seguem a «doutrina» do Papa e dos seus acólitos.
Pela indignação, sempre! Surpreendido? Não. Mas, como já dizia Adriano Moreira (num momento de notável lucidez): os portugueses surpreendem-se sempre com aquilo que já estão à espera...