Martin Amis, depois das suas excelentes memórias, já publicadas pela Teorema – Experiência, 2002 -, volta a surpreender os seus leitores com Koba o Terrível. Trata-se de uma obra extremamente política, embora com uma visão muito pessoal. Amis procura aqui entender uma das lacunas centrais do pensamento do século XX: a indulgência demonstrada pelos intelectuais ocidentais perante o fenómeno do comunismo real. Entre o início e o fim do livro, muito pessoais, o autor dá-nos uma centena de páginas que são provavelmente as melhores jamais escritas sobre Stalin: Koba o Terrível, Iosif o Temível.
O pai de Martin, Kingsley Amis, embora mais tarde se tenha tornado tendencialmente reaccionário, foi um «lacaio do Comintern», entre 1941 e 1950. Um dos seus melhores amigos, Robert Conquest, sem dúvida um dos maiores especialistas em questões da União Soviética, foi o autor de The Great Terror (1968), um dos primeiros textos realmente demolidores sobre a U.R.S.S. A notável memória de Martin Amis não deixa de explorar essas ligações.
Stalin dizia que a morte de uma pessoa era trágica, mas a morte de um milhão não passava de mera «estatística». Koba o Terrível, ao longo de cuja escrita o autor teve que enfrentar uma morte familiar, é a refutação cabal desse aforismo de Stalin.
Texto incluído na capa do livro Koba o Terrível, traduzido por Telma Costa e editado pela Teorema, em 2003.