a dignidade da diferença
26 de Fevereiro de 2009

 

 

Van Morrison tocou  integralmente, ao vivo, o excepcional «Astral Weeks», obra máxima do seu autor - a par de «Veedon Fleece» - e um dos registos mais impressionantes do que pode ser a música, quando tocada num regime de absoluta liberdade poética e formal, fruto do génio visionário do um músico verdadeiramente transcendente. É quase impossível imaginar como é que quatro músicos, que nunca tocaram juntos anteriormente, conseguiram criar naquelas míticas sessões de 1968 uma música simultaneamente lírica, alucinante e estratosférica, que só pode ter nascido num daqueles momentos únicos de telepática empatia entre os seus intérpretes.

Folk, jazz e poesia em voo livre e improvisado num dos melhores álbuns de sempre, seja qual for o género musical.

Enquanto esperam pelo DVD, comprem o disco (ao vivo ou o original, caso ainda o não possuam).

 

Sweet thing

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:35 link do post
22 de Fevereiro de 2009

 

A expressão Expressionismo Abstracto apareceu pela primeira vez (na Alemanha) já em 1919, na revista Der Sturm, publicada em Berlim entre 1910 e 1932 e que era particularmente famosa pela publicação de reproduções expressionistas. Alfred Barr usou esta expressão pela primeira vez nos Estados Unidos relativamente aos trabalhos de Wassily Kandinsky, que abandonara em 1911 qualquer pretensão de copiar o mundo dos objectos. Uns anos mais tarde, no Catálogo da Exposição de 1936, Cubismo e Arte Abstracta, Barr, de uma perspectiva formal, distinguia entre duas tradições de arte abstracta: a primeira, de tendência mais fortemente geométrico-estrutural, do seu ponto de vista vinha de Georges Seurat e Paul Cézanne, através do Cubismo, até aos vários movimentos geométricos e construtivistas na Rússia e Holanda, e que se tinha tornado internacional desde a Primeira Guerra Mundial. «A segunda – e, até recentemente, secundária – corrente», continua Barr, «tem a sua fonte principal na arte e teorias de Gauguin e do seu círculo, e flui através do Fauvismo de Matisse até ao Expressionismo Abstracto das pinturas de Kandinsky de antes da guerra. Após alguns anos de desaparecimento ressurge vigorosamente entre os mestres da arte abstracta associados ao Surrealismo. Esta tradição, ao contrário da primeira, é mais intuitiva e emocional do que intelectual; de forma mais orgânica e biomórfica do que geométrica; mais curvilínea do que rectilínea, mais decorativa do que estrutural e mais romântica do que clássica na sua exaltação do místico, do espontâneo e do irracional.»

De certa forma, o artigo de Barr foi profético para vários artista que, nas duas décadas seguintes, iriam atrair cada vez mais atenção, como a New York School.

 

Barbara Hess, tradução de Marta Theriaga e Madalena Boléo, Taschen

 

Going west, Jackson Pollock

 

The moon-woman cuts the circle, Jackson Pollock

 

Excavation, Willem De Kooning

 

Woman I, Willem De Kooning

 

Rothko Chapel, Mark Rothko

 

Mountains and Sea, Helen Frankenthaler

 

Hudson River Landscape, David Smith

 

 

19 de Fevereiro de 2009

 

O novíssimo e excelente álbum de Marianne Faithfull que, tivesse sido escutado a tempo e horas, faria parte da lista dos memoráveis de 2008. Ficam aqui três belos exemplos:

 

Hold on hold on

 

Salvation

 

How many worlds

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:03 link do post
15 de Fevereiro de 2009

 

OS EMIGRANTES

 

Em tempo de crise e com os sucessivos despedimentos que a acompanham, é (quase) inevitável a crescente e perigosa xenofobia que aí vem, com os velhos – e já gastos – argumentos de sempre: os estrangeiros que chegam ao nosso país vêm roubar o trabalho aos portugueses e a grande maioria traz a bagagem cheia de intenções criminosas.

Claro que vale sempre a pena relembrar os motivos que levaram tantos portugueses a emigrar durante os miseráveis anos da ditadura, à procura de uma vida mais justa e mais digna. Mas hoje pretendo, somente, aconselhar-vos um livro magnífico que ajuda, e muito, a compreender a complexa teia de sentimentos que ocupa esse verdadeiro espírito de aventura que faz a força e dá coragem a quem, um dia, decide largar tudo em busca de algo melhor. O livro chama-se Os emigrantes, foi escrito por W. G. Sebald – um dos maiores autores contemporâneos -, e narra a história de quatro emigrantes e exilados judeus do século XX.

 

No livro compreendemos, graças à estupenda e comovente prosa do escritor alemão, a noção de perda, separação e saudade do país natal que vai minando o pensamento daqueles que foram forçados a abandoná-lo rumo a uma imprevisível e interminável peregrinação.

E aproveitando a ocasião, aconselho-vos também a leitura de (pelo menos estes) Austerlitz e Os Anéis de Saturno, provas definitivas do estilo único e inclassificável de um escritor singular (falecido em Dezembro de 2001), recheado dos mais variados recursos estilísticos: desde o documentário à ficção, passando pelo diário, pela autobiografia ou, ainda, pela persistência do homem em busca das suas raízes culturais e não só.

Todos estes livros foram publicados pela Teorema (passe a publicidade) e traduzidos por Telma Costa.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:50 link do post
14 de Fevereiro de 2009

 

Hoje deu-me para isto, mas soube-me tão bem este regresso antecipado da primavera.

 

 

E, já agora, com óptima música a condizer:

 

Au Revoir Simone

publicado por adignidadedadiferenca às 20:17 link do post
08 de Fevereiro de 2009

 

BÉLA TARR, “A MAN FROM LONDON

 

Um funcionário de uma estação dos caminhos-de-ferro (Maloin) assiste, no momento em que os passageiros de Londres desembarcam e mudam de comboio, a um homicídio. O assassino desaparece e a vítima afoga-se na água com uma mala que trazia na mão. Maloin apanha a mala e abre-a. Qual não é o seu espanto quando verifica que está cheia de dinheiro. Depois de secar as notas molhadas, esconde a mala no seu armário.

Quando, posteriormente, é interrogado pela polícia, o protagonista não lhe revela o sucedido e age como se nada de anormal tivesse acontecido

Esta é a história (como se pode, aliás, verificar no verso da embalagem do DVD) que o cineasta Béla Tarr conta no seu último filme “O homem de Londres”. Mas como acontece com a maioria dos grandes autores, o que mais interessa neste filme existencialista e profundamente perturbador está muito para além da história que nos é narrada.

 

Tarr, apostando uma vez mais na dilacerante fotografia a preto-e-branco, acerta em cheio na forma como nos transmite o universo de desolação interior que se vai apossando de Maloin (magnificamente interpretado por Miroslav Krobot). Para isso, serve-se dos lentíssimos movimentos de câmara – possuidores de uma beleza plástica muito próxima da estética do mestre japonês Kenji Mizoguchi – e de uma obsessiva, arrepiante e extraordinaria banda sonora, que, por não terem nada de gratuito, descrevem com uma perfeição absoluta a angústia e a perturbação moral crescente que acompanham o protagonista principal do filme. Tudo para ele é um terrível e desesperante jogo sombrio: a decadente vida familiar, com uma mulher e uma filha que não consegue suportar, e uma profissão rotineira e entediante.

Com mão de mestre e uma visão muito particular sobre o modo como se deve fazer cinema, Béla Tarr ergue, perante os nossos olhos, um assombroso e visionário monumento estético, revelador do vazio existencial contemporâneo que se apoderou da grande maioria dos seres humanos, os quais se vão martirizando interiormente até atingirem, como único meio de salvação, uma incontrolável e redentora implosão final.

Uma obra-prima inesquecível, encenada de forma devastadora e dolorosa, mas com um rigor e detalhe prodigiosos.

Para quando a sua exibição numa sala de cinema comercial?

 

A man from London

publicado por adignidadedadiferenca às 23:06 link do post
03 de Fevereiro de 2009

 

Engana-se quem julga que a solidão não tem os seus momentos inesquecíveis. Depois da encomenda que recebi hoje, fica já o aviso: não quero saber de vocês enquanto não acabar de ouvir tudo isto.

 

 

 

 

 

Deixo-vos com uma pequena amostra:

 

David Ackles, One night stand

 

The United States Of America, The garden of earthly delights

 

Karen Dalton, Katie cruel

 

Curtis Mayfield, When seasons change

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:02 link do post
01 de Fevereiro de 2009

Para o que seria a estréia tropicalista, a apresentação de “Alegria, alegria” no festival da TV Record, estávamos todos certos, Gil, Guilherme e eu, de que um grupo de iê-iê-iê (rock) deveria ser contratado como acompanhante. Antes que eu pudesse comunicar minha intenção de convidar o RC7 a Guilherme, ele surgiu com uma solução irresistível. A casa noturna paulista O Beco, de Abelardo Figueiredo, um velho conhecido de Guilherme, tinha sob contrato um grupo de rock argentino chamado Beat Boys, composto de jovens músicos portenhos muito talentosos e conhecedores da obra dos Beatles e do que mais houvesse. Guilherme, que os ouvira casualmente numa ida ao Beco, me sugeriu que fosse conferir. Ao vê-los e ouvi-los, soube que aquilo era a coisa certa. O aspecto do grupo de rapazes de cabelos muito longos portando guitarras maciças e coloridas representava de modo gritante tudo o que os nacionalistas da MPB mais odiavam e temiam.

 

Alegria, alegria

 

Há um critério de composição em “Alegria, alegria” que, embora tenha sido adotado por mim sem cuidado e sem seriedade, diz muito sobre as intenções e as possibilidades do momento tropicalista. Em flagrante e intencional contraste com o procedimento da bossa nova, que consistia em criar peças redondas em que as vozes internas dos acordes alterados se movessem com natural fluência, aqui opta-se pela justaposição de acordes perfeitos maiores em relações insólitas. Isso tem muito a ver com o modo como ouvíamos os Beatles – de que não éramos (eu ainda menos do que Gil) grandes conhecedores. A lição que, desde o início, Gil quisera aprender dos Beatles era a de transformar alquimicamente lixo comercial em criação inspirada e livre, reforçando assim a autonomia dos criadores – e dos consumidores. (...) Nós partiríamos dos elementos de que dispúnhamos, não da tentativa de soar como os quatro ingleses. No meu caso – tanto em “Alegria, alegria” quanto na posterior e mais rebuscada “Clara” – há a presença (assumidamente consciente à época) do judaísmo pernambucano de Franklin Dario. Os Beat Boys se sentiram à vontade com esse material algo original mas talvez pouco consistente para beatlemaníacos. (...) As canções tropicalistas não se parecem com as canções dos Beatles – não na mesma medida em que essas outras são paródias delas.

Suponho que foi o maestro Júlio Medaglia quem promoveu a aproximação entre nós e o grupo de músicos eruditos contemporâneos de São Paulo a que ele pertencia. Medaglia pôs Gil em contato com Rogério Duprat que, por sua vez, o pôs em contato com os Mutantes.

A canção que Gil escolhera para apresentar o ainda não nomeado tropicalismo ao público do festival era uma adaptação de temas básicos de cantos de capoeira ao método harmónico de cortes bruscos (...) como sustentação da narrativa fortemente visual, na letra, de um crime passional ocorrido entre gente humilde num domingo em Salvador. Enquanto a minha canção se referia a estrelas de cinema (Brigitte Bardot, Claudia Cardinale), o “Domingo no parque” de Gil fora concebido quase como um filme. Com uma capacidade musical imensamente maior do que a minha, Gil entrou num diálogo fascinante com o músico erudito de vanguarda Rogério Duprat e com o grupo de rock Mutantes, criando um arranjo híbrido de trio de rock, percussão baiana (berimbau) e grande orquestra.

Os Mutantes eram três adolescentes da Pompéia, bairro de São Paulo (...) Quando Duprat os apresentou a Gil, este comentou comigo assustado: “São meninos ainda, e tocam maravilhosamente bem, sabem de tudo, parece mentira”.

 

Eles pareciam três anjos. Sabiam tudo sobre o rock renovado pelos ingleses nos anos 60, tinham a cara da vanguarda pop da década. Diferentemente dos roqueiros dos anos 50, eles eram refinados, tinham um estilo de comportamente cheio de nuances e delicadeza. Sérgio, com apenas dezasseis anos, exibia uma técnica guitarrística de primeira linha, em nível internacional. Rita e Arnaldo eram namorados desde a infância e tudo em volta deles tinha um sabor a um tempo anárquico e recatado. Ela era extramente bonita e sua porção americana muito evidente (era filha de um emigrante americano com uma descendente de italianos) lhe dava um ar em que se misturavam liberdade e puritanismo. (...) Lembro apenas que, por causa de Arnaldo, tínhamos de evitar palavrões em presença de Rita. (...) Era, no entanto, prazeroso, além de espantoso, tê-los por perto. E o resultado do trabalho  - e do trabalho subsequente deles como grupo e como artistas individuais (Rita tornou-se e é até hoje a maior estrela feminina do rock brasileiro) – foi entusiasmante.

 

Excerto do livro «Verdade Tropical» de Caetano Veloso

 

Domingo no parque

 

publicado por adignidadedadiferenca às 20:54 link do post
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