a dignidade da diferença
29 de Dezembro de 2008

 

 

Sendo, naturalmente, uma opinião (muito) pessoal e subjectiva e, por essa razão, sujeita a variações de gosto (quase) diariamente, aqueles que hoje considero os melhores filmes de 2008 poderiam não constar pela mesma ordem numa próxima lista que supostamente poderia publicar. O mesmo se irá passar, sem dúvida, com a escolha dos melhores livros e dos melhores discos. E depois da breve introdução, vamos ao que interessa.

Indecisão angustiante para a escolha do melhor filme até à última hora entre  aquele que considero visualmente o mais poderoso filme americano do ano, «Haverá sangue», e o espírito livre e poético (com reminiscências de Dovjenko e Tarkovski) de «Alexandra».

Cinema americano de qualidade é coisa cada vez mais rara e eleger uns quantos tornou-se bem difícil, exceptuando o filme dos irmãos Coen «Este país não é para velhos». Com mais esforço consegui chegar a Spielberg – que realizou o melhor filme descaradamente comercial – e a Todd Haynes, com a vibrante e nada convencional homenagem a Bob Dylan.

No resto do planeta o mais entusiasmente veio de França com os excelentes «Corações» e «O segredo de um cuscuz», que encontraram a solução mais feliz para ultrapassar o eterno problema entre cinema popular e cinema de autor, merecendo também referência os muito bons «A turma» e «Os amores de Astrea e de Celadon».

A nota final vai para o único filme de animação a merecer destaque, o belíssimo «Wall.E».

A lista é esta e fica sujeita à vossa apreciação crítica. Deixo-vos ainda com uma pequena lista com os 5 filmes mais importantes editados no nosso país em DVD. Mais tarde virão os 20 melhores discos (entre pop, jazz e música «clássica») e os 12 melhores livros.

 

 

10. I’m not there, Todd Haynes

  9. Wall.E, Andrew Stanton

  8. Indiana Jones e a caveira de cristal, Steven Spielberg

  7. A turma, Laurent Cantet

  6. Os amores de Astrea e de Celadon, Eric Rohmer

  5. Corações, Alain Resnais

  4. Este país não é para velhos, Ethan e Joel Coen

  3. O segredo de um cuscuz, Abdellatif Kechiche

  2. Haverá sangue, Paul Thomas Anderson

  1. Alexandra, Aleksandr Sokurov

 

 

 

OS CINCO MELHORES FILMES DO ANO EM DVD

 

  5. Deserto vermelho, Michelangelo Antonioni

  4. O anjo, Ernst Lubitsch

  3. Elena e os homens, Jean Renoir

  2. O desejo humano, Fritz Lang

  1. O evangelho segundo São Mateus, Pier Paolo Pasolini

 

O evangelho segundo São Mateus

publicado por adignidadedadiferenca às 20:09 link do post
23 de Dezembro de 2008

 

5. Vampire Weekend «I Stand Corrected»

 

 

 

4. Two Banks Of Four «Queen Of Crows»

 

 

 

3. Cat Power «Metal Heart»

 

 

 

2. Bill Fay «Garden Song» (1970)

 

 

 

1. My Brightest Diamond «From The Top Of The World»

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:51 link do post
21 de Dezembro de 2008

É a primeira vez que o faço, mas o serviço que presta ao país é tão importante que me vejo na obrigação de publicitar a sua existência. Trata-se do magnífico blog De Rerum Natura da responsabilidade de Carlos Fiolhais (físico), Desidério Murcho (filósofo), Helena Damião (pedagoga), Jorge Buescu (matemático), Palmira F. Silva (química), Paulo Gama Mota e Sofia Araújo (biólogos).

Os seus autores, figuras conhecidas da cultura e do sistema educativo nacional, preocupam-se seriamente com o destino da nossa educação, criticam-na de forma objectiva, propondo soluções ou alternativas ao que está feito ou falta fazer, mas sempre com a preocupação de fundamentar e justificar as suas opiniões e pretensões.

Quase todos sabemos que a nossa sociedade do futebol e das telenovelas prefere alimentar-se da autêntica comida para porcos que nos oferecem, diariamente, quase todos os canais de televisão nacionais, recusando, por preguiça ou ignorância, um caldo de cultura que a prepare melhor para resistir e sobreviver perante as dificuldades que o mundo actual lhe coloca (desde que também haja atitude e força de vontade, evidentemente).

Felizmente nem todos somos assim e o blog parece resistir bem e ter uma afluência bastante meritória de visitantes. Eu já o sou há uns meses, mas, por negligência, só hoje me lembrei de o destacar como merece. Mais um caso para dizer: antes tarde que nunca.

 

 

CARLOS FIOLHAIS «ENGENHO LUSO E OUTRAS CRÓNICAS»

 

Aproveitando a boleia, convido-vos a ler o excelente livro de crónicas de Carlos Fiolhais – professor de Física na Universidade de Coimbra e director da Biblioteca da mesma Universidade - que acaba de sair sob a chancela da Gradiva. Para realçar a urgência da sua leitura basta-me transcrever o texto que acompanha o livro e que lhe serve de sinopse.

 

 

Este livro reúne as crónicas do autor publicadas no jornal Público sobre diversos temas da nossa actualidade ou da nossa história, mas muito em particular sobre educação e cultura. No prefácio, José Manuel Fernandes, director desse jornal, escreve:

«Físico, (...) tem os pés bem assentes na terra (...) e, sobretudo, é capaz de tornar simples o que está na fronteira da máxima complicação.

No entanto, quando o convidei para escrever regularmente no Público, não lhe pedi o que talvez fosse mais fácil: fazer uma crónica divertida sobre a evolução da disciplina que domina. Pedi-lhe apenas para ser ele, iconoclasta e imprevisível e com liberdade para escrever sobre o que bem entendesse.

Foi exactamente o que ele fez. Com dois brindes: primeiro, fosse qual fosse o tema que escolhesse, via-o sempre de uma perspectiva que é rara num mundo onde todos tendem a falar do mesmo e da mesma forma; depois, ao lê-lo aprendíamos sempre qualquer coisa, e quase nunca sobre física. O Carlos Fiolhais revelou-se, como cronista, uma espécie de homem do Renascimento, senhor de uma cultura enciclopédica que lhe permitia sempre associar o que parecia uma notícia ou um evento banal a um conceito, um acontecimento histórico, uma descoberta, uma história ou um personagem, o que nos deixava sempre mais ricos.»

 

Não preciso de dizer mais nada. Bem-vindos ao Renascimento!

 

19 de Dezembro de 2008

E para quem não se deixar atrasar e tiver a sorte de ainda o encontrar, como aconteceu comigo quando me desloquei à FNAC durante esta semana, faça o favor de comprar isto:

 

O paradigma perfeito da música popular no que ela contém de mais tradicional. Vozes prodigiosas e expressivas de mãos dadas com um sentido estético admirável capazes de, com o apoio instrumental reduzido ao rigorosamente indispensável – quase sempre, não mais do que um piano e um violino -, transformar o mais pequeno pormenor em riqueza sonora, são matéria musical mais do que suficiente para abalar os sentidos de qualquer ouvinte suficientemente atento.

Sandy Denny, June Tabor, Richard & Linda Thompson reunidos num disco só e uma versão absolutamente arrepiante do genial «Sea Song» de Robert Wyatt, fazem desta gravação a prenda ideal para oferecer este ano a quem faz da música a sua máxima paixão.

Uma obra-prima de 2007, que só tive o prazer de escutar há muito poucos dias.

 

My Donald

 

Sea Song

 

14 de Dezembro de 2008

Chegou a altura de divulgar a minha pequena lista de prendas que gostaria de oferecer (ou de receber) no Natal. Entre a música, a literatura e o cinema que foram aparecendo durante o ano em curso, deixo-vos com as minhas sugestões. Umas irei repetir quando sair a lista das melhores publicações do ano, outras, sendo boas, irão, muito provavelmente, apenas para as menções honrosas. Mas, por se adequarem – não só por razões estéticas – a esta época natalícia, entram nas minhas preferências actuais. Quanto ao balanço retrospectivo do ano, dele falaremos lá mais para diante.

Não vale a pena gastar muitas palavras para explicar as minhas escolhas uma vez que elas têm muito de subjectivo (como é natural). mas, mesmo assim, quero deixar duas ou três ideias sobre alguns dos discos, livros e filmes que aconselho.

Não sendo grande apreciador da obra de Manoel de Oliveira (e estou a ser generoso) desde que teve o reconhecimento internacional (excepção feita aos óptimos Vale Abraão e Porto da Minha Infância), opto, em relação ao cineasta português, pela escolha menos óbvia: Em vez da caixa comemorativa dos 100 anos que inclui 21 filmes da fase final da sua carreira, parece-me muito mais interessante oferecer o excelente catálogo editado pela Cinemateca Portuguesa Manoel de Oliveira Cem Anos. Preenchem o livro um texto de Víctor Erice e outro de Agustina Bessa-Luís, uma extensa entrevista ao realizador portuense e, por fim, as magníficas críticas de João Bénard da Costa aos filmes de Oliveira a partir de Non Ou A Vã Glória De Mandar (1990).

No resto, apresento as minhas opções com a preocupação de separar música, cinema e literatura com uma única excepção: a obra-prima de Dino Buzzati O Deserto Dos Tártaros, que teve adaptação cinematográfica à altura da autoria de um dos mais importantes cineastas italianos da segunda metade do século XX, Valerio Zurlini. Por essa razão, deverão ser dados em conjunto.

Prendas especiais serão a caixa de 32 cd com a obra completa (autorizada pelo compositor) de Olivier Messiaen, o extraordinário romance O Jogo Do Mundo de Julio Cortázar (esqueçam o prefácio dispensável de José Luís Peixoto, cujo título o choninhas luso, num momento de rara lucidez, escolheu de forma certeira) e, falando de cinema, a edição em DVD do sublime Elena e os Homens de Jean Renoir.

Fiquem, então, com as sugestões.

 

MÚSICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CINEMA

 

 

 

 

 

 

LIVROS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lonely Drifter Karen

 

Stereolab

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:53 link do post
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08 de Dezembro de 2008

 

O FAZEDOR DE UTOPIAS: UMA BIOGRAFIA DE AMÍLCAR CABRAL

 

Uma muito interessante biografia escrita por António Tomás (jornalista e antropólogo nascido em Luanda, em 1973) sobre o líder fundador do PAIGC, Amílcar Cabral. Ao contrário das habituais biografias bajulatórias ou que procuram apenas o éxito fácil através do relato de acontecimentos supostamente escandalosos do visado, esta é uma pesquisa séria e preocupada, principalmente, em trazer novamente a importância histórica e política dessa fascinante figura de África para o contexto actual, remediando alguma injustiça de que tem sido alvo por ter sido praticamente esquecido pelas gerações futuras.

É um retrato certeiro, eficaz e incisivo, próprio de uma linguagem que naturalmente denuncia a formação jornalística do seu autor, que procura fazer compreender aos seus leitores a importância da utopia do histórico líder africano – aquele que mais respeito mereceu do mundo ocidental pela sua formação intelectual e generosidade de pensamento -, reflectindo sobre o rumo que a sua vida tomou desde as suas raízes até ao seu assassinato, pairando, sobretudo, a ideia de unidade e independência que sempre atravessou o pensamento de Amílcar Cabral e que este procurou incutir a todos aqueles que com ele se cruzaram, mas que, ao mesmo tempo, lhe trouxe imensos problemas criados pelos opositores e inimigos que foi angariando ao longo da sua curta existência.

O livro foi publicado no ano passado, mas só agora tive a (feliz) oportunidade de o ler e aconselho-o vivamente a quem se interessa por história e política e, nomeadamente, pela história de África e da independência dos seus países.

 

 

«Amílcar Cabral nasceu guineense e cabo-verdiano, numa generosidade pan-africanista que, paradoxalmente, haveria de ser a sua desgraça.

Tenho para mim que foi uma das figuras mais interessantes do século XX, uma espécie melhorada (muito melhorada mesmo) de Che Guevara africano. O facto de o seu nome e de a sua obra dizerem hoje tão pouco às novas gerações de intelectuais africanos, e de ser praticamente desconhecido fora do continente, afigura-se-me uma enorme injustiça.

Este livro tenta devolver ao grande público essa figura maior de África. Fá-lo numa linguagem jornalística, apoiada numa investigação rigorosa. O facto de o seu autor, António Tomás, ser angolano, não me parece irrelevante. Trata-se de dar a ver um pensador e combatente africano numa perspectiva africana. Algo que teria certamente agradado a Amílcar Cabral

 

José Eduardo Agualusa, escritor angolano

 

CONTOS DE NATAL

 

Mudando de assunto e aproveitando a época natalícia, aqui vos deixo com mais umas recomendações musicais perfeitas para a época. Primeira recomendação, o belíssimo «Songs for Christmas» da autoria de Sufjan Stevens, soberbo autor de canções recheadas e enriquecidas por panorâmicos bordados orquestrais, que, neste conjunto de presentes musicais oferecidos à família – entre temas clássicos e muitos originais -, gravados entre 2001 e 2006 (com pausa em 2004), contraria a tendência habitual para a banalidade costumeira destes discos de espírito natalício.

 

 

Em segundo lugar, o óptimo «One More Drifter in the Snow» de Aimee Mann, em que a artista norte-americana se dedica a interpretar, com a sua banda habitual, uma série de clássicos de natal e termina o disco com uma canção da sua autoria que - já seria de esperar num texto seu - contraria tudo aquilo que se espera de uma canção natalícia, a espantosa «Calling On Mary».

Ambos apareceram nas lojas em 2006 e, desde então, têm sido a minha companhia musical para os últimos dias de cada ano.

 

 

Sufjan Stevens "Sister winter"

 

Aimee Mann "Calling on Mary"

 

04 de Dezembro de 2008

 

De vez em quando preciso de ouvir esta mulher. Funciona, para mim, como uma espécie de panaceia para sarar as feridas infectadas pelos meus estados de alma. E também ajuda, obviamente, o blog a respirar muito melhor.

Para aqueles que visitarem o meu blog, aceitem este gesto como uma prenda antecipada de natal - o you tube, por vezes, consegue proporcionar surpresas destas.

Uma voz sublime em perfeita articulação com o silêncio e o uso (rarefeito) do suporte instrumental, cujas notas encenam na perfeição o sentido dos textos e têm a capacidade rara de nos emocionar com aquela marca intransmissível de intemporalidade. 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:39 link do post
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