Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece o que a alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem,
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
(Poema de Fernando Pessoa, música de Amélia Muge do álbum «Todos os dias» editado em 1994)