Sempre de mim (2008)
Ao contrário de outras vozes, Camané dispensa, voluntariamente, o exibicionismo vocal, e ensina-nos, em contrapartida e em dezasseis novos capítulos sonoros a preto e branco, como a austeridade e a depuração do seu canto está ali «apenas» para dar sentido aos textos e às melodias, vem directamente da alma e expõe-se, por isso, às verdadeiras e sentidas amarguras que a vida lhe (nos?) traz.
Chega e sobra, neste caso, para tornar o fado profundamente moderno, sem meter uma unha na tradição. Começa a ser, até, quase maníaco o desapego que Camané sente pela inovação, condescendendo, enfim, aqui e ali, como suporte instrumental, ao uso do contrabaixo como variante única das habituais e tradicionais viola e guitarra portuguesa.
Passo a passo, disco a disco, com o apoio essencial de José Mário Branco, o fadista vai semeando um caminho cada vez mais ímpar e apaixonadamente solitário na música portuguesa, gesto apenas ao alcance dos autores maiores.
Naturalmente, até hoje, o mais sério candidato a disco do ano português.
Sei de um rio