a dignidade da diferença
13 de Maio de 2008

 

Sem menosprezo para aqueles que acreditam nas aparições de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos e que merecem todo o respeito, para o dia 13 de Maio, dedico este livro, editado em Abril de 1999 e que vale sempre a pena recordar, escrito por um homem de fé cristã católica, o Padre Mário de Oliveira.

 

 

 

O objectivo pretendido não é criar polémica, porque essa já teve a sua hora num célebre debate promovido pela SIC, mas sublinhar que é perfeitamente possível ser cristão católico romano  e considerar as aparições de Fátima uma farsa.

Deixo aqui alguns excertos do primeiro capítulo do livro, sem deixar de aconselhar vivamente a sua leitura a católicos e não católicos.

 

«Quando, há tempos, aceitei participar num debate promovido pela SIC e respondi abertamente "não!" à pergunta "acredita nas aparições de Fátima?", foi um escândalo (quase) nacional. Nunca tal se ouvira na televisão, para mais, da boca de um padre católico.»

«Apressei-me, por isso, a recordar (...) que, ao contrário do que pensa a maior parte das pessoas, mesmo não católicas, as aparições de Fátima não fazem parte do núcleo da Fé cristã católica, o que quer dizer que se pode não acreditar em Fátima e continuar a ser cristão católico romano.»

«Entretanto, quando (...) respondi que não acreditava (...) mais não fiz do que retomar hoje a mesma atitude que a Igreja Católica em Portugal tomou entre 1917 e 1930, Na verdade, durante 13 anos, também ela não acreditou nas aparições de Fátima. E podia ter-se apressado a reconhecê-las, porque, até então, eram já muitos os milhares de pessoas que acorriam a Fátima, entre 13 de Maio e 13 de Outubro, de cada ano.

 

 

«Porém, só em 1930 é que a Igreja (...) reconhece Fátima. Um reconhecimento oficial a que não terá sido alheio (...) o golpe militar de 28 de Maio de 1926. O novo regime, obscurantista católico, saído deste golpe militar e presidido pela dupla Salazar-cardeal Cerejeira, carecia de uma coisa assim, para mais facilmente se implantar nas populações. A Senhora de Fátima, com a mensagem retrógrada, moralista e subserviente que lhe é atribuída e que, ainda hoje, vai tão ao encontro da generalidade dos nossos funcionários eclesiásticos católicos e do paganismo religioso-cristão das nossas populações, vinha mesmo a matar. (...) Vai daí, em lugar de continuar a demarcar-se do fenómeno e até a hostilizá-lo, a hierarquia maior da Igreja Católica, em 1930, mudou radicalmente  de estratégia (...) Terá percebido, nessa altura que, se não adiasse mais esse reconhecimento, os lucros seriam enormes (...) Lucros financeiros. Lucros políticos. Lucros clericais. Lucros eclesiástico-católicos.»

 

«Mas o pior - e parece que na Igreja Católica ainda ninguém, entre os mais responsáveis, deu por isso - é que essa surpreendente mudança de estratégia (...) relativamente às "aparições" de Fátima, materializava também uma histórica traição ao Evangelho de Jesus Cristo. Uma traição que acabou por desfigurar completamente o Cristianismo, tal como o próprio Jesus Cristo o inspirou com a sua prática e palavra, no sentido de que ele materializasse, na história, a via de realização humana integral, saudavelmente incómoda, como o sal da terra, e libertadoramente subsersiva, como a luz do mundo (Mt 5).»

 

 

«Para cúmulo, das três crianças que, em 1917, afirmaram a pés juntos que tinham visto Nossa Senhora - uma delas, Francisco, nunca ouviu nada  e tanto ele, como a sua irmã, Jacinta, nunca disseram uma palavra que fosse à senhora das "aparições do Céu", apenas Lúcia foi protagonista, o que prova que até nas "aparições do Céu" há discriminação!... - duas delas já tinham morrido, há uns dez-onze anos, de pneumónica. E também em consequência do terror que a Senhora de Fátima lhes incutiu (entenda-se, certas catequeses moralistas e terroristas de grande parte do clero de então).»

 

 «Entretanto, alguns clérigos mais fanáticos (...) haviam conseguido arrastar a pequenita Lúcia, poucos anos depois de 1917, para fora da sua aldeia e encurralaram-na, primeiro, no Asilo de Vilar, no Porto, e, depois, num convento da Galiza. Foram ao ponto de lhe arrancar o nome (...) e passaram a chamar-lhe (...) Irmã Maria das Dores. Ao mesmo tempo, proibiram-lhe que alguma vez falasse a alguém das "aparições".»

 

 

Para mim, vale bem a pena reflectir. Só não sei se o livro está por aí disponível. A edição é da «Campo das Letras».

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