As gravações ao vivo das nove sinfonias de Bruckner pela Orquestra Filarmónica de Munique, dirigida pelo maestro Sergiu Celibidache (editadas pela EMI em 1998)
É admirável a empatia quase inacreditável que se sente entre os blocos sonoros monumentais que são a matéria das sinfonias de Bruckner e a interpretação, impossivelmente lenta e em tons coloridos, que o maestro romeno, adepto confesso do zen-budismo, imprime aos vários andamentos, reforçando, dessa maneira, a sua visão pessoal sobre o modo como cada intérprete deve intuir o tempo certo. Celibidache, mais do que um esboço, desenha, deste modo, uma atmosfera densa, servindo-se, de forma inventiva e intencional, de uma pulsação dramática no limite do suportável, atingindo, quase no final de cada sinfonia (ou de cada andamento), um êxtase místico de proporções gigantescas, transformando cada sinfonia numa matéria musical claramente religiosa e com uma dimensão digna de uma catedral. Está, a par da versão de «La mer» de Claude Debussy (comparada a um oceano de cores e sons), para lá da compreensão humana.