a dignidade da diferença
09 de Novembro de 2013

 

 

Só esta semana é que tive a oportunidade, com a publicação de uma caixa de três DVDs, de dedicar a necessária atenção à obra, ainda curta e insuficientemente louvada, do cineasta James Gray. O que une The Yards (Nas Teias da Corrupção) e We Own the Night (Nós Controlamos a Noite) diz respeito ao retrato hipertenso do (sub) mundo do crime, da droga, dos negócios corrompidos, da violência ou dos jogos de poder. James Gray filma este universo, destacando, contudo, a existência de uma espécie de código de honra em defesa da família – mesmo quando os seus membros percorrem percursos antagónicos -, na tradição americana de John Ford ou de Francis Ford Coppola, mas aqui, porventura, ainda mais acentuado. Se as respetivas histórias, só por si, já possuem a estrutura e o engenho suficientes para imprimir uma dinâmica e um ritmo assinaláveis, é, no entanto, a poesia do olhar que transparece através da câmara, assim como a sua densidade dramática (tanto na utilização da cor, como na subjetividade dos planos), que confere uma evidente personalidade ao cinema de Gray.

 

 

Por outro lado, o cineasta consegue ainda, num estilo silencioso e com uma prodigiosa contenção de meios, elevar as relações entre as personagens a um nível de emoção e intensidade tais que, no cinema americano, só o brilho do olhar de David Cronenberg - no ponto em que este o deixou em A History Of Violence e Eastern Promises - lhe é comparável. Por sua vez, Two Lovers (Duplo Amor) foge razoavelmente às características mais básicas dos filmes anteriores e narra, desta vez, sob um manto de romantismo, a história melodramática de Leonard, que se divide entre duas paixões. O filme, porém, escapa elegantemente aos estereótipos do cinema romântico contemporâneo e atravessa, ainda que de forma mais subtil, o universo típico do cinema de James Gray. São os casos da continuada parábola do filho pródigo, das personagens perturbadas e atormentadas, e da exploração, mais uma vez, de um conceito muito próprio da família americana. Aguarda-se pois, com redobrado interesse, o mais recente trabalho do cineasta, The Immigrant, ainda não estreado no nosso país.

 

 

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