«O relativismo existe desde a antiguidade, do que é testemunha o Teeteto, de Platão (152a), mas sempre representou uma filosofia entre outras. Tornou-se dominante apenas no nosso tempo. Comporta uma multidão de variantes, entre as quais reconhecemos sempre uma certa familiaridade. O relativismo cognitivo assegura que não há certezas em matéria de representação do mundo. Segundo o relativismo estético, os valores artísticos seriam um efeito da moda ou do snobismo. Para o relativismo normativo, as normas seriam convenções culturais arbitrárias. (…) Como todos os ismos, o relativismo tem também influência social e política. Ao afirmar que tudo é opinião e convenção arbitrária, favorece a perda de referências e justifica a representação da vida social como resultado de força e, em todo o caso, da sedução mais que da persuasão. Em contrapartida, ao insistir na diversidade e na igual dignidade das crenças, favorece o respeito pelo outro.» Raymond Boudon introduz assim o relativismo na sua qualidade de doutrina dominante no mundo ocidental. Questionando as suas convicções e consequências, a sua perspetiva sobre o conhecimento, as regras e os valores, o filósofo e sociólogo francês divide-o em bom e mau relativismo. O bom demonstra porque temos opiniões e ponderações diferentes sobre idênticas situações em função dos distintos contextos sociais e mentais. O mau pretende que a diversidade das regras e das situações fabricadas pelo homem fiquem gravadas sem ser necessário entendê-las. Dispondo de uma capacidade argumentativa sucinta e rigorosa, elaborando o texto em pequenas frases com o ritmo adequado, focado nas questões essenciais e assente numa evidente clareza de raciocínio, Boudon leva a sua argumentação admiravelmente até ao fim.