Nada a Temer, a mais recente obra do escritor britânico Julian Barnes, é um magnífico e melancólico livro que diverte e surpreende, um trabalho do mais fino recorte que convoca – no permanente diálogo que Barnes estabelece com o seu irmão filósofo - a literatura e, sobretudo, a cultura francesa (o que já acontecera no anterior e igualmente notável O Papagaio de Flaubert, romance - ou melhor, ensaio - que chamou à colação A Educação Sentimental do genial autor francês), a meditação filosófica, a religião. Pelo tema - o medo da morte: «as pessoas só acreditam na religião porque têm medo da morte» -, pela ironia, pela inteligência ou pela elegância da escrita, pelo seu subtil rendilhado. Não temos como evitar a morte, mas este livro desconcertante, que incomoda e nos faz meditar, ajuda-nos a superar o medo e a evitar a angústia. Pensando melhor, talvez nem isso. Mas quanto ao prazer literário, não temos nada a temer: é um trabalho que faz caretas à morte.