O Público, em parceria com a ASA, publicou, na colecção Os Incontornáveis de Banda Desenhada, O Buda Azul, do suíço Cosey (Bernard Cosandey), admirável autor da série Jonathan e de Viagem a Itália, entre outras obras quase tão significativas.Com O Buda Azul, Cosey regressa ao universo contemplativo, reflexivo, silencioso, por vezes sombrio, mas não isento de cor e acção, que caracterizava grande parte da sua obra anterior. Tendo como pano de fundo a ocupação chinesa do Tibete, Cosey narra-nos a história de um jovem inglês, Gifford, recebido pelos residentes de um mosteiro tibetano, do seu encontro com Lhahl, a jovem guardiã do Buda Azul, do amor impossível, da posterior separação e da longa demanda em busca da sua amada. Uma história onde o seu autor consegue, uma vez mais, siderar-nos com a absurda riqueza cromática e o rigor formal do traço, o experimentalismo estético e uma permanente insatisfação que o faz questionar criteriosamente os parâmetros estabelecidos através de uma inesgotável gama de recursos estilísticos. Mas isso, por si só, talvez não bastasse. O que mais nos impressiona é a circunstância do sentido estético de Cosey não ser um corpo vazio, isto é, do requinte instrumental estar aqui apenas para servir uma admirável construção filosófica sobre os desígnios, o sofrimento, as aspirações, os medos e as inquietações que os desafios do mundo contemporâneo provocam.