Cristina Branco acrescenta, com o novíssimo Não Há Só Tangos Em Paris, mais um dado novo ao seu original percurso musical pelos caminhos do fado-canção. Desta vez, após o excelente Kronos – onde questionava, uma vez mais, se o que cantava era ou não fado, aproveitando para expandir subtilmente os seus limites -, Cristina Branco viaja por Buenos Aires, Lisboa e Paris, ou seja, investe na matriz (ou género) musical que imediatamente associamos àquelas cidades: a sensualidade do tango, a tristeza do fado e a melancolia da chanson française; dito de outro modo, traz-nos as memórias de Gardel, Amália e Brel. Adiciona-lhe, como é seu timbre, pequenos sulcos, factores de inquietação, os quais enriquecem a sua música com novas cambiantes, injecta-lhe diferentes ângulos de visão e inventa inesperadas coordenadas, sem, contudo, se afastar demasiado de um sereno classicismo. As canções ganham assim uma formidável ambiguidade, não são maçadoramente lineares, e fornecem à sua autora (embora Cristina Branco não as assine) matéria suficiente para se manter como uma das mais excelsas cantoras teoricamente tradicionais da actualidade.