Se Busto resgatou o fado da sua condição local e lhe deu uma projecção universal, é, porém, no sublime Com Que Voz, gravado em 1970, que Amália atinge o pico das suas capacidades artísticas. Associado aos dois álbuns está o génio intelectual de Alain Oulman, determinante para que o fado de Amália Rodrigues atingisse esta nova dimensão. Com Que Voz - continuação da colaboração entre Amália e Oulman, iniciada com o magnífico Busto (1962) - é, na realidade, o álbum mais conseguido da fadista, o ponto em que o trabalho de ambos atingiu a plena maturidade musical. Já não é só a dor que comanda a voz, mas, sobretudo, a visão poética do canto, o requinte cultural, a extraordinária amplitude vocal, melódica e harmónica; parece existir, em suma, uma anunciada perfeição estética e formal, como se a voz de Amália estivesse sempre à espera destes textos e destas melodias para atingir a sua máxima expressividade.