Run to ruin - Nina Nastasia (2003)
Depois de «Dogs» e «The blackened air», a arte de Nina Nastasia surge refinada em todos os seus pormenores. Um canto fúnebre, falsamente doce e impossivelmente tenso, encaixado em melodias que de tão sinuosas e transviadas que são, parecem sobreviver fragmentadas e, aparentemente, à deriva, e que tem para nos oferecer uma quase oração cujas palavras têm o peso mais profundo que uma alma negra e esquizofrénica pode habitar. Prejudica um pouco a empatia com as canções, quando julgamos ser todo o suporte instrumental exageradamente rude, cru e desarrumado, até nos apercebermos que, afinal, os sons artesanais criam uma ambiência folk irresistível e venenosamente melódica onde, afinal, tudo está no sítio certo. Desde o ruído das serras eléctricas, aos gemidos de um doente em estado terminal, sem esquece a dissonância, as explosões e os sussurros até aos cortes brutais a golpes de machado. Neste universo, convive-se, sem perigo, com pedaços de tango, sublimes arranjos de cordas, espasmos e murmúrios de violinos, atingindo os seus pontos altos na intensidade dramática de «You her and me» e nessa prodigiosa música de câmara que é «Superstar». Não haveria Nina Nastasia se não tivessem aparecido P. J. Harvey, Aimee Mann, Suzanne Vega, Laura Nyro e, talvez, Carla Bozulich, mas criou um universo tão pessoal, que já não precisa delas para coisa nenhuma.