John Barry foi um dos raríssimos genuínos criadores de música para cinema – a par de Ennio Morricone, Bernard Herrmann e poucos mais -, responsável por pequenos desvios estéticos no género que resultaram num respeitável grupo de admiradores confessos como foi o caso, por exemplo, dos Specials, de Fred Frith ou dos Portishead do genial Dummy. A visão estética do emblemático compositor era a coordenação quase perfeita, através da exploração laboratorial, de elementos aparentemente paradoxais: a ressonância timbríca dos estúdios da EMI, a aventura electrónica, os devaneios do easy listening, a concisão minimalista, a erudição bebida em Boulez e Stockhausen, as impurezas da pop ou o aroma do jazz. E se ultimamente a sua música foi ao encontro de um conceito francamente mais conservador e mainstream - que não será muito do nosso agrado – a verdade é que, inicialmente, ela era suficientemente agreste, vibrante e magnífica para reservar a John Barry um merecido lugar na história.