Peter Carey inspirou-se em Alexis de Tocqueville para moldar Olivier de Garmont, personagem central de Parrot e Olivier na América, a par de John Larrit, este último conhecido pela sua alcunha Parrot. Olivier é o paradigma do aristocrata que obteve uma educação primorosa, enquanto Parrot é o seu oposto: um proletário inglês jacobino. Juntos visitam a América, o primeiro em busca de inspiração para renovar o sistema prisional francês; o segundo acompanha-o fazendo-se passar por secretário, mas na realidade a sua tarefa é a de espiar o aristocrata francês.
Entre muitas outras coisas de não somenos importância, Carey explora neste magnífico romance - escrito numa linguagem bela, livre e apurada, assente em pequenos e deliciosos pormenores que enriquecem sobremaneira a sua escrita -, o conceito de liberdade como força motriz da democracia ou o papel da cultura na sociedade contemporânea. Fá-lo rebuscando costumes da época que retrata ou, num plano diametralmente oposto, revelando de forma clara e detalhada a América de hoje, questionando, aqui e ali, o futuro da democracia, a qual tanto é motivo de reparo como de esperança.
Muito talento, mais rigor histórico, entusiasmo e humor servidos na dose certa, convidam o leitor a manter-se vivo durante as cerca de 500 páginas do romance que quase deu ao seu autor, pela terceira vez na carreira deste, o Man Booker Prize. E para terminar, fica, a propósito, a sugestão de leitura do clássico Da democracia na América de Tocqueville.