a dignidade da diferença
27 de Outubro de 2013

 

 

Morreu, com 71 anos de idade, Lou Reed. Um músico genial, inventor, entre outras coisas, com os Velvet Underground, do conceito de música alternativa e criador de um estilo tantas vezes imitado: a poesia underground, uma visão da música simultaneamente selvagem, primitiva, lírica e erudita, o olhar cínico, sombrio e realista de cronista contemporâneo, o canto quase falado e uma maneira original, económica, rugosa, seca e, por vezes, brutal, de retocar os três acordes básicos do rock’n’roll. Para a história da música popular ficam, no mínimo, com os Velvets, The Velvet Underground & Nico, White Light/White Heat, VU ou Live MCMXCIII. A solo ficam, por sua vez, Transformer, New York, Songs For Drella (escrito a meias com John Cale, o seu irmão desavindo), Magic And Loss ou The Raven (talvez a sua obra-prima). Mas seria imperdoável esquecer álbuns do calibre do terceiro dos Velvet Underground, de Street Hassle e The Blue Mask (estes dois últimos a solo); ou ainda um punhado de grandes canções irregularmente distribuídas por cerca de três dezenas de álbuns.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 18:39 link do post
17 de Novembro de 2012

 

 

The Velvet Underground & Nico, o hiperclássico da banda originalmente formada por Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Maureen Tucker, celebra 45 anos de existência e terá sido provavelmente o primeiro disco de rock de vanguarda.  Vendeu pouco, mas na opinião de Brian Eno «quase todos os que o compraram formaram de seguida uma banda». Com o patrocínio de Andy Warhol, os velvets reuniram no seu corpo musical a crueza e secura das palavras de Reed, a experimentação, o negrume e o espírito vanguardista de Cale, o rigor rítmico de Morrison e a energia e tensão de Moe Tucker. Com a cumplicidade ocasional da voz gélida de Nico, o álbum de estreia ampliou todas estas qualidades convertendo-as numa massa sonora simultaneamente lírica e primitiva, quase sempre dissonante, angustiante e duma violência extrema, sem contudo rejeitar uma aproximação a delicadas e sedutoras melodias pop (embora com uma dose de veneno nada desprezível). Deliberadamente contra corrente, opositora natural do hippismo e flower power da época, a música dos Velvet Underground era prodigiosamente densa e rugosa, tensa e dramática, crescia avassaladoramente entre acelerações e desacelerações constantes, qual comboio elétrico imparável, e mostrava pela primeira vez uma visão crua da realidade, percorrendo com lentes desfocadas um quadro negro, esquizofrénico e dilacerado, onde cabia a androgenia, o sadomasoquismo, o mundo da droga, a violência das ruas ou a angústia de quem vive num mundo com poucas escolhas possíveis. Com Femme Fatale, Venus in Furs, All Tomorrow's Parties, Heroin, I'll Be Your Mirror ou Black Angel's Death Song, foi aqui que o rock alternativo verdadeiramente criou a sua matriz fundadora.

 

04 de Março de 2012

 

 

Lou Reed fundou em meados dos anos sessenta do século passado, com John Cale, a mítica banda de rock alternativo The Velvet Underground, cuja matriz musical – assente numa estrutura sonora simultaneamente lírica e primitiva, insistentemente negra, crua, suja, rugosa e densa, propositadamente contra corrente, que se alimentava de inesperados sobressaltos melódicos, experimentalismo e eletricidade pura, diálogos instrumentais em queda livre, acelerações e desacelerações rítmicas – influenciou sucessivas gerações de músicos que nunca esconderam o seu legado musical. Terminada a magnífica experiência velvetiana, Reed iniciou uma irregular mas significativa carreira a solo, contribuindo para o seu cânone musical o glam rock de Transformer (1972), que guarda no seu seio o hiperclássico Walk on the Wild Side; o depressivo Berlin (1973), que um excessivo protagonismo orquestral não conseguiu, ainda assim, apagar a explosão interior de raiva e ódio, nem a sublime depuração sonora da grande maioria das canções; o canto falado, os textos magníficos e a eletricidade brutal do notável New York (1989), essencial retrato, cru e pessimista, dos anos da administração Reagan; Songs for Drella (1990), o assombroso requiem sonoro em memória de Andy Warhol elaborado a meias com John Cale, o irmão desavindo; Magic and Loss (1992), glacial e comovente partilha da dor e genial demonstração de maturidade estética na suprema atenção que é dada ao mínimo detalhe sonoro; e, por último, a verdadeira obra-prima que é The Raven (2003), baseado na obra de Edgar Allan Poe, resumo essencial da visão estética tão rudimentar quanto erudita de um dos mais notáveis e elementares escritores de canções de que há memória.

 

07 de Agosto de 2008

Uns actualmente estão patarecos (Patti Smith), outros já não existem (The Velvet Underground), há ainda quem faça as ocasionais reuniões de grupo (Television), quem já tenha partido (Jimi Hendrix) e, até, os que andam há muito desaparecidos (Captain Beefheart), mas naqueles anos 60 e 70, senhores, tinham o mundo nas mãos!

 

Patti Smith - Horses

Television - Marquee moon

The Velvet Underground - Heroin

The Jimi Hendrix Experience - All along the watchtower

Captain Beefheart and his Magic Band - Plastic factory

 

25 de Fevereiro de 2008

Dirty - Sonic Youth (1992)

 

 

Com a mesma atitude dos Velvet Underground e dos Television, e muitos anos depois da anunciada morte do rock, chega um portentoso e viciante delírio sónico que concede mais uns anos de vida à velha carcaça. Sobressai a aparente contradição entre primitivismo e sedução melódica, cuja equação é sabiamente resolvida por uma inimaginável potência sonora convertida, onde menos se espera, a um surpreendente e arrebatador lirismo. Depois dos marcantes «evol» e «sister», os Sonic Youth aventuram-se definitivamente (no seu disco, aparentemente, mais «mainstream») por um maior arrojo formal, superiormente conduzido por quatro músicos convertidos a uma visão predominantemente arquitectónica (confirmar em «shoot»), lapidando um diamante em bruto mas de brilho intenso, que se insinua por entre acelerações e saltos no abismo («purr» será o deslumbramento maior), visões espectrais do paraíso ou do inferno, e pelo contacto directo com o ritmo cardíaco de um condenado à cadeira eléctrica. Um álbum majestoso que, por onde passa, não deixa pedra sobre pedra.

 

                  purr

 

 

                  shoot

publicado por adignidadedadiferenca às 23:51 link do post
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