a dignidade da diferença
15 de Setembro de 2013

 

 

Confesso que a música dos Everly Brothers nunca me agradou especialmente. Demasiado agarrada ao espírito da época, consistia numa preocupação excessiva com as harmonias vocais, amparadas em bonitas mas algo inócuas melodias e demasiado presas a um conceito estético despropositadamente pueril e juvenil, inconsistente e por desenvolver. Bonnie ‘Prince’ Billy e Dawn McCarthy – que criou, com Nils Frykdahl, os excelentes e praticamente desconhecidos Faun Fables –, recolhendo os ensinamentos da pop/folk profunda e clássica dos anos sessenta e setenta; a dos Jefferson Airplane, dos Steeleye Span e, especialmente, da trupe dos Fairport Convention (com Sandy Denny e Richard Thompson à cabeça), pegaram nas canções menos conhecidas que os Brothers criaram ou apenas interpretaram, e releram-nas sob uma nova perspetiva. Descobriram e associaram-lhe novos elementos sonoros, modificaram-lhe as arestas, pesaram e ampliaram-lhe o volume e desenvolveram a sua carga dramática, transformando quase milagrosamente as características exageradamente açucaradas da matriz original – indicada para duplas do género Simon & Garfunkel, uns anos antes de mudarem o curso da história da música pop, com as magníficos Bookends e Bridge Over Troubled Water –, num conjunto soberbo de peças musicais densas, elétricas, inesperadamente livres e amadurecidas. Ao disco chamaram-lhe apropriadamente What the Brothers Sang.

 

 

19 de Dezembro de 2008

E para quem não se deixar atrasar e tiver a sorte de ainda o encontrar, como aconteceu comigo quando me desloquei à FNAC durante esta semana, faça o favor de comprar isto:

 

O paradigma perfeito da música popular no que ela contém de mais tradicional. Vozes prodigiosas e expressivas de mãos dadas com um sentido estético admirável capazes de, com o apoio instrumental reduzido ao rigorosamente indispensável – quase sempre, não mais do que um piano e um violino -, transformar o mais pequeno pormenor em riqueza sonora, são matéria musical mais do que suficiente para abalar os sentidos de qualquer ouvinte suficientemente atento.

Sandy Denny, June Tabor, Richard & Linda Thompson reunidos num disco só e uma versão absolutamente arrepiante do genial «Sea Song» de Robert Wyatt, fazem desta gravação a prenda ideal para oferecer este ano a quem faz da música a sua máxima paixão.

Uma obra-prima de 2007, que só tive o prazer de escutar há muito poucos dias.

 

My Donald

 

Sea Song

 

29 de Maio de 2008

I want to see the bright lights tonight - Richard and Linda Thompson (1974)

 

 

O mais perfeito e solitário dos discos que Richard Thompson gravou com a sua mulher Linda.

Melodias memoráveis e intemporais nas vozes sublimes de Linda (só comparável a Sandy Denny e June Tabor) e Richard Thompson desaguam fatalmente em canções fundas e sem remédio, atingindo em «Has he got a friend for me?»  e «The end of the rainbow» o limite suportável da tragédia humana.

Tanta dor e crueldade, aparentemente, parecem apenas destinadas a ouvidos tão habituados ao sofrimento que este já não lhes provoca qualquer tipo de reacção, não é assim? Errado, perfeitamente errado.

O milagre sonoro é de tal ordem que as canções, inequivocamente sombrias e devastadoras, surgem, num último fôlego, matizadas pela excelência da interpretação e pelo rigor musical que, servindo-se de uma paleta instrumental maioritariamente tradicional, encontra, de uma forma densa e penetrante, soluções ricas e inesperadas para todas as equações, recebendo, inesperadamente, uma vida nova e um colorido sonoro portentoso que as salva do abismo e nos convoca para mil e uma chamadas.

Obra-prima inclassificável.

 

 

. 

The end of the rainbow

 

the great valerio

 

withered and died

18 de Maio de 2008

 

No seguimento do post anterior

 

The north star grassman and the ravens - Sandy Denny (1971)

 

The north star grassman and the ravens, Crazy lady blues e Late November

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:59 link do post
18 de Maio de 2008

 

 

Who knows where the times goes? - Fairport Convention, do álbum «Unhalfbricking» de 1969

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:55 link do post
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