a dignidade da diferença
13 de Abril de 2016

 

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Se há razões para recear que o jazz se converta brevemente numa língua musical morta, também se descobrem paradoxalmente vestígios de grande vitalidade. Com efeito, Michael Formanek, uma das vozes mais originais e estimulantes do jazz contemporâneo, autor de um curto mas valioso percurso musical, juntou-se desta feita ao Ensemble Kolossus para renovar de forma simultaneamente equilibrada, rigorosa e exuberante o conceito e a escrita das grandes orquestras de jazz, ampliando o percurso estético percorrido pela meritória Maria Schneider Orchestra. Recolhendo o melhor da tradição e contextualizando-a no mundo do jazz contemporâneo, a exímia formação liderada pelo contrabaixista, configurando em The Distance uma formidável gestão do tempo e do espaço, reinventa e desenvolve um ambiente de grande unidade e diversidade harmónica, rítmica e melódica, no qual convivem naturalmente peças de sublime e tocante melancolia, em contraponto com outras de puro divertimento, hipnóticas ou alucinadas, mas sempre enérgicas, inventivas e arrebatadoras.

 

 

18 de Dezembro de 2015

O lendário quinteto de Miles Davis, constituído pelo próprio, e ainda por Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Willians em digressão europeia pela Europa durante o ano de 1967, na qual sobressaiu a acuidade melódica dos seus instrumentistas, sendo igualmente de louvar o seu entusiasmo e a sua paixão pelo ritmo, numa rigorosa e quase telepática comunicação musical, assaz reveladora da sua enorme capacidade de improvisação e composição de um consistente e vibrante edifício orquestral, desbravando novos terrenos para o jazz.

 

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«Naturally, it is at the tall end of the arc that one would except to find the music that captured Miles, Wayne, Herbie, Ron and Tony at the top of their game, challenging and supporting each other, taking changes in the performances that most other groups would not dream of doing publicity. The performances on this collection reveal precisely that. During a multiple-week European tour at the close of their last full year together, the group was sporting a fully integrated sound that felt refreshingly modern: spontaneous and unusual yet with the familiar passion for melody and rhythmic excitement that had always been primary elements in all that Miles David touched. That it took place in 1967, a pivotal year on so many levels, had more than a little to do with it»

Michael Cuscuna/Richard Seidel, 2011

 

Gingerbread Boy (Jimmy Health)

01 de Janeiro de 2015

E, por fim, aqui fica registada a escolha dos álbuns mais relevantes de 2014 em função dos seus traços de personalidade que escapam ao modelo copista que infecta a quase totalidade da produção universal. Contudo, esta lista poderia ser substituída sem significativa desvalorização patrimonial pelas mais recentes publicações de Clifford Brown, Anna Calvi, Capicua, Pablo Heras-Casado, Leonidas Kavakos & Yuja Wang, Hamilton Leithauser, Paco de Lucia, The Phantom Band, Real Combo Lisbonense, Marc Ribot Trio, Tune Yards ou Suzanne Vega. E ainda conseguiria acrescentar um ou dois que ficarão, no entanto, injustamente esquecidos.

 

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Ambrose Akinmusire

 

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Tony Allen

 

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Cecilia Bartoli, Muhai Tang

 

 

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The Delines

 

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Bob Dylan and The Band

 

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FKA twigs

 

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Jerusalem Quartet

 

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Amélia Muge

 

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Ricardo Rocha

 

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St. Vincent

 

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Tre Voci

 

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Mark Turner Quartet

publicado por adignidadedadiferenca às 12:07 link do post
30 de Agosto de 2014

 

 

Não será fácil recriar a música de um génio da estirpe de Miles Davis. Porém, paradoxalmente, talvez por causa da excelência do seu universo musical, a tentação tem sido grande. Nos melhores exemplos, a reinterpretação cumpre o seu papel; contudo, não obstante o seu brio, nunca consegue suplantar uma música inventada previamente. Mas com Joe Henderson, em 1993, o resultado foi diferente. Observando detalhadamente a anatomia musical de Miles Davis, Henderson assimila integralmente o espírito do mestre, explora as suas formas e substância musicais até ao osso, os seus estímulos, inquietações ou contradições, e tempera-os com uma dose equilibrada e vibrante de lirismo, acuidade rítmica, improvisação, sentido arquitectónico e intensidade melódica. Recorrendo a um quarteto - formado por si, John Scoffield, Dave Holland e All Foster -, Joe Henderson introduz novas e inesperadas gradações na estrutura musical dos standards de Miles - aqui e ali pontuados por uma assinalável contenção sonora, onde nada é supérfluo -, conquista uma liberdade estética que outros não conseguiram, conduzindo-os amiúde até ao mais absoluto silêncio. Decorridas duas décadas, So Near, So Far não ganhou uma única ruga e é, ainda hoje, um álbum rigorosamente essencial.

 

05 de Março de 2013

 

Intencionalmente despidas da força significativa das palavras e superiormente interpretadas pela Liberation Music Orchestra – fundada em 1969 por Charlie Haden, um dos melhores contrabaixistas da história do jazz -, as canções revolucionárias que preenchem maioritariamente este magnífico The Ballad of the Fallen, de 1983, (onde está a «nossa» Grândola Vila Morena) adquirem, por outro lado, uma dimensão estética assinalável e particularmente inesperada para aqueles ouvidos mais fechados que, regra geral, se preocupam excessivamente com a vertente política e contestatária das canções - cuja importância (e peso histórico) não deve ser, obviamente, afastada - e esquecem a substância musical adjacente. A inesgotável diversidade e a subtileza estilística, o rigor da escrita, o imaginário poético, a singular articulação de diversos registos - cuja aptidão unificadora consegue combinar naturalmente climas tensos criados pela dissonância dos acordes com momentos do mais profundo lirismo -, a capacidade de improviso, o ritmo e a cadência musical, conduzem um conjunto sobejamente conhecido de «canções da rua» rumo a uma nobreza expressiva que lhes acrescenta anos de vida e cuja marca mais distintiva consiste na formidável substituição da eloquente linguagem verbal pela explosiva e complexa gramática musical, ampliando as qualidades musicais que estas canções já possuiam na sua matriz original.

 

03 de Janeiro de 2013

E a escolha termina finalmente aqui. Recolhi novidades, reedições - apenas as primeiras e não as sucessivas, o que explica, por exemplo, a ausência da obra reeditada de José Afonso e, sobretudo, dos extraordinários Cantigas do Maio e Venham Mais Cinco – e edições de arquivo; a arca do tesouro trouxe, neste último caso, gravações inéditas de Wes Montgomery e de Bill Evans. Deixei de fora Loveless, dos My Bloody Valentine, que, contudo, podia figurar no lugar de Isn't Anything. Sublinhe-se ainda que, noutro dia e em condições diferentes, entrariam facilmente na lista dos eleitos os mais recentes trabalhos de Andrew Bird, Leonard Cohen, Neneh Cherry, dos Músicos do Tejo (com a interpretação notável da ópera La Spinalba), Dirty Projectors, ou os seminais A Um Deus Desconhecido e Sexto Sentido da Sétima Legião (e a restante obra, embora não impressione tanto, não merece ser menosprezada); desta vez, injustificadamente, ficaram de fora. Ouçam-nos na mesma.

 

  

  

 

 

 

 

 

 

 

 

02 de Janeiro de 2013

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

01 de Janeiro de 2013

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

26 de Agosto de 2012

 

Frank Morgan: Love, Lost & Found (1995)

  

 

Frank Morgan não teve uma vida fácil; foram anos de sofrimento e múltiplas convulsões, marcados sobretudo pela sua submissão à droga e pelas consequentes e indesejáveis visitas às prisões da Califórnia. Porém, a crer no testemunho deixado por este magnífico Love, Lost & Found (gravado durante o mês de março de 1995), a maturidade proporcionou-lhe o reencontro tranquilo e gracioso com a paz. Auxiliado musicalmente por Cedar Walton, Ray Brown e Billy Higgins, cujo rigor instrumental é quase sempre sobreexcelente, Morgan dedica-se exclusivamente à interpretação de standards do jazz, abordando-os como se de uma viagem interior se tratasse: com sentimento, lirismo e sabedoria, através de uma depuração profunda, uma atenção ao detalhe e uma economia narrativa - onde cada nota é suficiente e nunca está a mais - que atingem nesta obra a sua máxima expressão artística. Um disco admirável, contagiante e comovente.

 

All the Things You Are, numa versão anterior...

15 de Abril de 2012

 

 

Wes Montgomery, músico de Indianapolis, falecido em 1968, foi, com Charlie Christian e Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas da história do jazz que, como praticante, definiu o som e ampliou o significado do instrumento como motor estético do jazz. Echoes of Indiana Avenue, publicado há dias, fornece alguns dados à fase inicial da carreira de Montgomery, quando este praticava o seu talento musical nos clubes noturnos da cidade natal, onde desenvolve o seu estilo singular; e contém gravações desconhecidas realizadas durante os anos de 1957 e 1958. Aí se revela uma maturidade estética e musical já bastante apreciável, um modo muito peculiar e precioso de tocar o instrumento, digno de um mestre, substituindo o uso da palheta pelo polegar, uma fusão subtil de estilos e géneros musicais, moldando-os a uma forma única, nova e sedutora, e, por fim, tão ou mais importante, um espírito criativo capaz de incluir em todos os números musicais uma quantidade imparável de prodigiosas e emocionantes improvisações sonoras. Um disco fabuloso.

 

Round Midnight 

12 de Janeiro de 2012

  

 

Há música de que gostamos muito mas da qual, por falta de tempo ou de espaço, não tivemos oportunidade de falar na devida altura, ou seja, no momento em que se deu a conhecer ao mundo. Este disco de Bugge Wesseltoft, intitulado Playing, já é de 2009 – embora suponhamos que no nosso país apenas foi lançado em 2010 – e é uma pequena maravilha, à qual apetece voltar repetidas vezes. Trata-se de um registo introspectivo com um subtil acento electrónico, uma releitura da tradição com a louvável e conseguida intenção de lhe oferecer um enquadramento contemporâneo através de um eloquente cunho pessoal. No fundo, uma síntese belíssima das matrizes musicais de Charlie Parker ou de John Coltrane, passadas pelo crivo de Miles Davis (o de Kind of Blue) e do piano de Bill Evans, revistas pela sóbria maturidade musical de Wesseltoft e espelhadas no seu temperamento nórdico e na sua alma cheia de blues. Um candidato legítimo a futuro clássico.

 

Singing

16 de Março de 2011

 

 

Hewitt gravou, em 1967, o seu álbum de estreia Jawbones com apenas 16 anos, terminando o ciclo musical com Winter Winds, ainda não tinha 20 anos, demonstrando na sua curta carreira todo o seu talento precoce. A caixa Winter Winds – The Complete Works: 1968-1970 traz à colação o seu portentoso legado musical. Uma espécie de jazz espiritual, transcendente, assente em micro camadas de lirismo, pontuado aqui e ali por alguma crueza, súbitos ataques de bebop e swing, com capacidade para transformar pormenores em «pormaiores» e para edificar uma modernidade estética de grande envergadura e gravidade, reflexo majestoso de uma arquitectura sonora e profundidade dramática sem precedentes. Uma obra admirável e praticamente omissa.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:08 link do post
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