a dignidade da diferença
08 de Fevereiro de 2015

josé vilhena

 José Vilhena

 

Ainda a propósito da chacina no jornal satírico Charlie Hebdo, devo dizer, quanto à liberdade de expressão e aos seus supostos limites, que o problema da democracia, como aliás sempre suspeitei, estará na intransigência e (in) capacidade de encaixe dos eventuais visados. Já em 1976, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem clarificou brilhantemente esta matéria, como se pode constatar neste excerto do acórdão: «A liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou ideias acolhidas com fervor ou consideradas inofensivas, mas também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam o Estado ou uma qualquer fracção da população. Assim exige o pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem os quais não há sociedade democrática.» Ou seja, para a liberdade de expressão não pode haver limites, excepto nos casos já legalmente previstos da injúria ou difamação, os quais, como se deveria saber, não incluem a ofensa às religiões. De resto, para que serviria o humor se a sua principal função não fosse chocar, ferir ou incomodar? Qualquer dia não se pode rir de nada. Teríamos, infelizmente, o leitor e eu, que conviver em regime de exclusividade com esse tipo de humor inofensivo, sem sal e sem graça que todos os dias invade maioritariamente os jornais, os canais de televisão e as estações de rádio mainstream.

 

euro

publicado por adignidadedadiferenca às 19:30 link do post
18 de Janeiro de 2015

charlie hebdo 2.jpg

Na sequência dos trágicos acontecimentos de Paris, com a chacina no jornal satírico Charlie Hebdo, José Tolentino Mendonça escreveu na edição deste fim-de-semana do semanário Expresso, um dos mais notáveis, criativos, lúcidos e, para mim, inesperados textos que tive ocasião de ler a propósito dos limites que devem ou não ser impostos à liberdade de expressão. Indispensável para compreender a diferença essencial - e, nalguns casos, aprender a distinguir - entre criticar e proibir (ou reprovar) quem pensa diferente de nós: «O semanário “Charlie”, há que reconhecer”, pratica muitas vezes um humor exagerado e grotesco. Grande parte das imagens que produz são impublicáveis pelos jornais ditos de referência, pois criaria um motim entre os leitores. Contorna estimáveis convenções e estilhaça os limites do bom gosto. Mas a sua força vem precisamente de habitar essa incómoda e inapagável, feita de dissonância, de heterodoxia e inclusive de blasfémia, onde, há que dizê-lo também, a liberdade das sociedades e dos indivíduos se exprime.

charlie hebdo.jpg

No seu ensaio sobre o riso, Henri Bergson explica isso bem. O riso é incompatível com a emoção, ele dirige-se antes à inteligência. Precisamos de conseguir separar ambas as coisas para colher o cómico da situação. E qual é a vantagem disso? (…) É finalmente conseguirmos perceber aquilo que em nós e nos outros é o alvo natural da sátira: a rigidez que nos captura quase sem darmos conta. O mais fácil de satirizar em nós é sempre o que nos torna surdos à realidade, prisioneiros da ficção de nós mesmos; é a nossa comédia de enganos, com os seus tiques e trejeitos, as suas atoardas que se pretendem o idioma da verdade; é o nosso caminho ostentado sem qualquer preocupação de contacto com os outros, que rapidamente se pontilha de automatismo e preconceito. Reconhecer o ridículo é a forma mais ágil de sair dele, mas essa não é uma decisão nem espontânea, nem indolor. O riso não é uma consolação, nem uma terapia fácil de seguir para ninguém.» Quanto a mim, não deixarei de reconhecer a importância e estarei sempre com quem, usando o riso sem limites, dedica o seu tempo a avisar-nos desses perigos. 

18 de Junho de 2010

 

Um clássico absoluto contra a sonolência e a ditadura futebolística deste verão. Um momento impagável e inesquecível dos Monty Phyton.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 09:47 link do post
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