a dignidade da diferença
24 de Março de 2016

 

george steiner.JPG

 

«Há uma contradição no génio da literatura russa. De Pushkin a Pasternak, os mestres da poesia e da ficção russas pertencem ao mundo como um todo. Os seus poemas, romances e contos são indispensáveis mesmo quando os lemos em traduções fracas. Sem estas obras temos dificuldade em imaginar o reportório dos nossos sentimentos e da humanidade comum. Com o seu estilo historicamente breve e constrangido, a literatura russa partilha esta universalidade envolvente com a Grécia antiga. No entanto, o leitor não russo de Pushkin, Gogol, Dostoievski ou Mandelstam é sempre um intruso. Está essencialmente a espreitar para um discurso íntimo que, apesar da obviedade da sua força comunicativa e da sua pertinência universal, nem os críticos intelectuais mais experientes e perspicazes do Ocidente conseguem perceber com todo o rigor. O significado permanece obstinadamente nacional e resistente à exportação. Claro que isto se deve, em parte, a uma questão de língua ou, mais exactamente, à desconcertante gama de línguas à qual os escritores russos recorrem, e que vai das formas regionais e populares às formas altamente literárias e mesmo europeizadas. Os obstáculos que um Pushkin, um Gogol, uma Akhmatova põem no caminho da tradução integral são abundantes. Mas o mesmo se pode dizer a respeito dos clássicos escritos em muitas outras línguas, e apesar de tudo, os grandes textos russos conseguem fazer-se entender num determinado plano – na verdade, num plano bastante amplo e revelador.»

George Steiner, in George Steiner at The New Yorker, 2009

29 de Dezembro de 2012

 

Tendo em conta a dimensão estratosférica de obras que foram publicadas durante o ano e a impossibilidade física de aceder a um número mínimo exigível que permitisse ficar com uma perceção razoável daquilo que foi acontecendo de relevante no domínio da criação literária, apresentar uma lista dos melhores livros do ano será uma tarefa perfeitamente estúpida, ingrata e inútil. Na melhor das hipóteses, sem cair no ridículo, apenas poderei destacar daquilo que li os poucos livros que me agradaram (doze no total, uma média de um livro por cada mês do ano, incluindo novas edições, reedições ou primeiras edições de livros antigos). É o que farei.

 

A Economia dos Pobres, Abhijit V. Banerjee/Esther Duflo

 

O Legado de Humboldt, Saul Bellow

 

Obra Poética Vol.1, Jorge Luis Borges

 

Os Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoievski

 

Poeira da Alma, Nicholas Humphrey

 

Os Manuscritos de Aspern, Henry James

 

Sobre a Balsa da Medusa, Anselm Jappe

 

Pensar, Depressa e Devagar, Daniel Kahneman

 

Mel, Ian McEwan

 

A Noite dos Proletários, Jacques Rancière

 

Do Natural, W. G. Sebald

 

Steve Sem-Sandberg, O Imperador das Mentiras

 

31 de Dezembro de 2010

 

Para quem frequenta este blogue, com alguma assiduidade, o conceito ínsito à lista dos melhores do ano já não traz qualquer novidade; no mundo contemporâneo torna-se impossível nomear os melhores. O que talvez possamos conseguir é revelar um pequeno nicho de obras que nos marcaram durante o ano que agora finda, as quais gostaríamos de partilhar com quem nos visita e dá o prazer da sua companhia. Da ficção à poesia, do ensaio à filosofia, passando pela crítica literária ou pela divulgação científica, este ano trouxe-nos a edição de muitos e bons livros para ler: os clássicos do século vinte de Knut Hamsun e Nabokov, a idade de oiro da novela russa, a poesia de Emily Dickinson, Cervantes, Kierkegaard, o último e delicioso livre de Peter Carey, que nos devolveu o espírito de Tocqueville, o muito belo romance de Hélia Correia (único destaque português) ou, para terminar, a nobreza do ensaio e da crítica literária transmitida pelos melhores artesãos nessa área: George Steiner e James Wood. Passamos por tempos difíceis e conflituosos, mas, ainda assim, haverá sempre bons motivos para ler.

 

 

Peter Carey, Parrot e Olivier na América

  

 

Knut Hamsun, Pan

 

 

Søren Kierkegaard, Temor e Tremor

 

 

Norman Manea, O Regresso do Hooligan

 

 

Vladimir Nabokov, Desespero

 

 

Saltykov-Shchedrin, A Família Golovliov

 

 

Simon Singh, Big Bang

 

 

George Steiner, The New Yorker

 

 

James Wood, A Mecânica da Ficção

 

 

Dostoievski, Andréev e Tolstoi, Contos Russos

18 de Agosto de 2010

«A Biblioteca de Babel» é uma colecção de literatura fantástica escolhida e dirigida por Jorge Luis Borges que, no caso concreto, reúne três magníficos contos russos de Dostoievski, Andréev e Tolstói: «O Crocodilo – Um Acontecimento Extraordinário», onde Doistoievski antecipa o obsessivo universo de Kafka, «Lázaro» do surpreendente e praticamente desconhecido Leonid Andréev, que, nesta obra, escreve sobre o regresso de Lázaro ao mundo dos vivos para nos contar a sua visão do mundo inconstante, frágil e desencantado que observa; e, por último, «A Morte De Ivan Iliitch», assombroso retrato moral do protagonista saído da pena do conde Tolstoi.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:42 link do post
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