a dignidade da diferença
31 de Dezembro de 2015

 

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Francisco Bethencourt, «Racismos, Das Cruzadas ao Século XX»

 

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Italo Calvino, «Porquê Ler os Clássicos?»

 

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John Darwin, «Ascensão e Queda dos Impérios Globais 1400-2000»

 

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Atul Gawande, «Ser Mortal»

 

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Ivan Gontcharov, «Oblomov»

 

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Javier Marías, «Assim Começa o Mal»

 

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Olivier Rolin, «O Meteorologista»

 

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Carl Schmitt, «O Conceito do Político»

 

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François Truffaut, «Os Filmes da Minha Vida»

 

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Voltaire, «Tratado Sobre a Tolerância»

 

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04 de Junho de 2014

 

 

«Já sabemos que não vivemos num mundo sem sentido. As leis da física fazem sentido: o mundo é explicável. Existem níveis de emergência mais elevados e níveis mais elevados de explicação. Temos acesso a profundas abstracções na matemática, na moral e na estética. São possíveis ideias de um alcance tremendo. Mas há ainda muito no mundo que não faz sentido e não fará até sermos nós a fazê-lo. A morte não faz sentido. A estagnação não faz sentido. Uma bolha de sentido no seio de uma insensatez infindável não faz sentido. Se o mundo faz efectivamente sentido, em última análise, dependerá do modo como as pessoas – os nossos semelhantes – escolherem pensar e agir. Muitas pessoas têm aversão ao infinito sob várias formas. Mas há coisas que não podemos escolher. Há só uma maneira de pensar que é capaz de propiciar o progresso, ou a sobrevivência, a longo prazo, e esse caminho é a busca de boas explicações através da criatividade e da crítica. Não há, portanto, uma terceira via entre finito e infinito. O que nos separa no horizonte é sempre o infinito. Tudo o que podemos escolher é se é um infinito de ignorância ou de conhecimento, de certo ou errado, de morte e de vida.»

David Deutsch, The Beginning of Infinity – Explanations that Transform the World

12 de Janeiro de 2014

 

Farmacêuticas da Treta (Bad Pharma, no original), publicado no nosso país pela Editorial Bizâncio e escrito pelo médico e investigador Ben Goldacre, aponta corajosamente o dedo à indústria farmacêutica, focando-se sobretudo no insuficiente registo de dados, na manipulação dos resultados dos ensaios clínicos e nos, por vezes, inadequados períodos de experimentação (demasiados curtos ou excessivamente longos), na deficiente regulação e na pressão exercida sobre os reguladores, destacando ainda outros problemas que merecem ser sublinhados tais como, por exemplo, a aprovação apressada de medicamentos sem estar devidamente comprovada a sua eficácia, a ineficácia comparativa entre diversos tratamentos ou a preocupante promiscuidade entre académicos, médicos e indústria farmacêutica. Um conjunto de situações preocupante, descrito numa linguagem acessível – embora o autor não abdique do rigor e dos pormenores técnicos, quando necessário – o qual desagua no desconhecimento e na insegurança da classe médica no momento de tomar decisões, causando malefícios aos doentes, cujos interesses são prejudicados pelos interesses das empresas e da indústria farmacêutica em geral. Uma das questões que Ben Goldacre não esquece diz respeito ao modo como determinadas pessoas são coagidas a participar nos ensaios clínicos preliminares. Deixo aqui uma fatia considerável do seu comentário sobre o assunto:

 

 

«Até à década de 1980, nos Estados Unidos, esses estudos realizavam-se muitas vezes em reclusos. É possível argumentar que, desde então, esse tipo de coacção absoluta terá abrandado, em vez de ter sido totalmente eliminada. Neste momento, ser uma cobaia num ensaio clínico é uma fonte de dinheiro fácil para jovens saudáveis com poucas opções: às vezes estudantes, às vezes desempregados, às vezes muito pior. Decorre uma discussão ética sobre a possibilidade de um verdadeiro consentimento por parte de pessoas seriamente necessitadas e sujeitas a incentivos financeiros consideráveis. Uma situação destas cria uma tensão: os pagamentos aos participantes deverão ser baixos para reduzir quaisquer “incentivos indevidos” a experiências arriscadas ou degradantes, o que, em princípio, parece um bom mecanismo de segurança; mas dada a realidade em que vivem muitos participantes na fase 1, eu preferiria que fossem bem pagos. Em 1996, descobriu-se que a Eli Lilly andava a recrutar alcoólicos sem abrigo num centro de acolhimento local. O director de farmacologia clínica da Lilly disse:

 

 

“Estes indivíduos querem ajudar a sociedade.” (…) Segundo a Declaração de Helsínquia, o código ético que enquadra a actividade médica mais actual, a investigação justifica-se se a população de que provêm os participantes vier a beneficiar dos resultados. A ideia subjacente +e a de que, por exemplo, um novo medicamento para a sida não deve ser testado em pessoas de África que nunca poderiam comprá-lo. Mas, nos Estados Unidos, os desempregados, sem seguros médicos, tão-pouco têm acesso a tratamentos médicos dispendiosos, pelo que não é claro que possam beneficiar dessa investigação. (…) O dinheiro é um aspecto central deste processo, e como o pagamento é muitas vezes deferido, a pessoa só o recebe na totalidade se completar o ensaio, a não ser que consiga provar que o abandono se deveu a efeitos secundários graves. Os participantes costumam ter poucas alternativas económicas, sobretudo nos Estados Unidos, e é frequente darem-lhes a assinar formulários de consentimento compridos e impenetráveis, difíceis de ler e de compreender. (…) Os participantes sentem relutância em queixar-se das más condições, porque não querem perder a oportunidade de futuros estudos, e não recorrem a advogados pelas mesmas razões. Também podem não abandonar ensaios desagradáveis ou dolorosos por medo de perder o rendimento. Um participante descreveu isto como “uma espécie de tortura paga”: “Não somos pagos para fazer um trabalho… somos pagos para aguentar”.»

18 de Agosto de 2012

 

 

Questionar, pôr em causa conceitos adquiridos: uma regra de oiro que deveria ser seguida sem limites de qualquer espécie e cuja validade é inquestionavelmente absoluta. Trágica e infelizmente, porém, por causa de uma obediência cega aos dogmas estabelecidos, a sua interiorização, apreensão ou utilização são cada vez mais, sobretudo nos tempos hodiernos, diminutas, raríssimas. Quem fica a perder é o conhecimento. Simon Singh, físico de méritos reconhecidos, no seu magnífico Big Bang (que a Gradiva editou no nosso país e Paulo Ivo Cortez Teixeira e José Braga traduziram), põe pertinentemente o dedo na ferida: «A descoberta de Baade não só contribuíra imenso para colmatar uma das principais falhas do modelo do Big Bang, como, o que é mais importante, pusera a descoberto uma fraqueza da astronomia em geral – o hábito de obediência cega. A reputação de Hubble levara os astrónomos a aceitar sem hesitação os valores que ele propusera para as distâncias a Andrómeda e às outras galáxias. Não questionar nem pôr em causa afirmações tão fundamentais, mesmo quando proferidas por autoridades eminentes, é uma das caraterísticas da ciência de fraca qualidade.»

02 de Agosto de 2012

 

 

A história da evolução e da vida não obedece a qualquer ordem ou lógica de progresso. O homem não é o ser mais complexo nem o objeto supremo da criação; apesar do impacto e do peso inegável da sua presença no planeta, o aparecimento do homem foi provavelmente imprevisível e a sua evolução correspondeu a uma série de alterações casuais das circunstâncias e dos meios geográficos. Na realidade, a tese que defende a ideia de que o homem é o culminar de uma evolução que começa nos micro-organismos e se estende pelos invertebrados, peixes e mamíferos, encontra-se viciada pelo facto de ser aquela que gostamos de ouvir. É assim que pensa, pelo menos, o paleontólogo Stephen Jay Gould. O enfoque de Gould, no magnífico Full House, sustenta que a variação, a espontaneidade e a diversidade são a realidade de grau mais elevado da excelência (numa comparação deliciosa com o full house num jogo de póquer), utilizando, para o efeito, variadíssimos exemplos, análises e enigmas, como forma de concretizar a essência do seu entendimento segundo o qual se deve «encarar a origem do homo sapiens como um acontecimento fortuito, não passível de repetição, não podendo os seres humanos ocupar qualquer posição privilegiada no topo ou constituir o culminar de alguma coisa». No fundo, como o autor de resto já defendia no anterior A Vida é Bela, é bem provável que o ser humano só tenha aparecido por mero acaso. O livro, dezasseis anos depois, mantém todo o fascínio.

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10 de Novembro de 2011

 

 

«Embora existam razões para pensar que matar um ser consciente de si geralmente é pior do que matar outro tipo de ser, a maior parte dessas razões é favorável, e não adversa, à eutanásia, especialmente no caso da eutanásia voluntária. Ainda que este resultado possa parecer surpreendente à primeira vista, na verdade limita-se a reflectir o facto de que aquilo que os seres conscientes de si têm de especial é o facto de poderem saber que existem ao longo do tempo e que, caso não morram, continuarão a existir. Geralmente esta continuação da existência é intensamente desejada. No entanto, quando a existência futura expectável deixa de ser desejada, o desejo de morrer pode ocupar o lugar do desejo normal de viver, invertendo as razões para não matar que se baseiam no desejo de viver. Deste modo, pode-se sustentar que a defesa da eutanásia voluntária é muito mais forte do que a defesa da eutanásia não voluntária.»

Peter Singer in Escritos Sobre Uma Vida Ética, Publicações Dom Quixote. Tradução de Pedro Galvão, Maria Teresa Castanheira e Diogo Fernandes.

08 de Março de 2009

 

Eis mais um magnífico livro que se debruça sobre as preocupações ambientais, cujo autor, Edward O. Wilson, é um dos mais reputados biólogos contemporâneos.

E. O. Wilson defende que a solução para alguns dos maiores problemas do planeta virá da união entre ciência e religião. Embora entendam o mundo de forma diferente e tenham uma visão contrária acerca do nascimento e da evolução das espécies, o autor apela para a junção destas duas forças em busca de um objectivo que deve ser de todos: viver em harmonia com a natureza, pondo de parte as suas diferenças, pouco relevantes face ao perigo que espreita o mundo real.

Numa linguagem fascinante e clara que se transforma, para os seus leitores, num autêntico farol, o biólogo descreve-nos uma cativante visita guiada por alguém que é um profundo conhecedor dos temas, rumo a uma melhor compreensão do mundo e dos seres vivos, e da relação que existe entre eles, alertando-nos para o perigo que ameaça o futuro do planeta.

A poluição, o aquecimento global ou o declínio da diversidade biológica devem ser preocupações comuns, que só o respeito mútuo poderá ultrapassar.

A obra chama-se The Creation: An Appeal to Save Life on Earth e foi publicada pela Gradiva – na colecção Ciência Aberta - em Novembro de 2007, com o título A Criação, Um Apelo para Salvar a Vida na Terra. A tradução é de Maria Adelaide Ferreira.

Para terminar, deixo-vos com um pequeno excerto do primeiro capítulo, onde o autor mostra, de forma brilhante, ao que vem.

 

 

Carta a um pastor baptista sulista: saudação

 

Caro pastor: Nunca nos encontrámos e no entanto sinto que o conheço suficientemente bem para lhe chamar amigo. Antes de mais, crescemos na mesma fé. Quando rapaz, também eu respondi ao apelo do altar; fui imerso na água baptismal. Embora já não pertença a essa fé, estou certo de que, se nos encontrássemos e falássemos em privado sobre as nossas crenças mais profundas, o faríamos num espírito de respeito mútuo e de boa vontade. Sei que partilhamos muitos dos preceitos da conduta moral. Talvez também importe o facto de sermos ambos americanos e, na medida em que tal possa ainda afectar a civilidade e as boas maneiras, sermos ambos sulistas.

Escrevo-lhe agora para lhe pedir conselho e ajuda. Claro que, ao fazê-lo, não vejo forma de evitar as diferenças fundamentais nas nossas respectivas visões do mundo. O pastor é um intérprete literal da Escritura Sagrada cristã. Rejeita a conclusão alcançada pela ciência de que a humanidade evoluiu a partir de formas inferiores de vida. Acredita que a alma de cada pessoa é imortal, fazendo deste planeta uma plataforma de transição para uma segunda vida, eterna. A salvação está assegurada para aqueles que se redimem em Cristo.

Eu sou um humanista secular. Penso que a existência é aquilo que dela fazemos enquanto indivíduos. Não existe qualquer garantia de uma vida depois da morte e o Céu e o Inferno são aquilo que criamos para nós próprios, neste planeta. Não existe nenhum outro lar. A humanidade teve origem aqui, por evolução a partir de formas inferiores de vida, ao longo de milhões de anos. E sim, vou dizê-lo claramente, os nossos antepassados eram animais parecidos com macacos. A espécie humana adaptou-se, física e mentalmente, à vida na Terra e a nenhum outro lugar. A ética é o código de conduta que partilhamos com base na razão, na lei, na honra e num sentido inato de decência, mesmo que alguns o atribuam à vontade de Deus.

 

Para si, a glória de uma divindade invisível; para mim, a glória de um universo finalmente revelado. Para si, a crença num Deus transformado em carne para salvar a humanidade; para mim, a crença no fogo de Prometeu, roubado para libertar os homens. O pastor encontrou a sua verdade absoluta; eu continuo à procura. Eu posso estar enganado, o pastor pode estar enganado. Podemos ambos estar parcialmente certos.

Será que esta diferença entre as nossas visões do mundo nos separa em todos os aspectos? Não. O pastor e eu e qualquer outro ser humano lutamos pelos mesmos imperativos de segurança, liberdade de escolha, dignidade pessoal e por uma causa em que acreditar que seja maior do que nós próprios.

Vejamos então se podemos, e se o pastor está disposto a isso, encontrar-nos no lado próximo da metafísica, de forma a lidarmos com o mundo real que partilhamos. Expresso-me assim porque o pastor tem o poder de ajudar a resolver um enorme problema, que é uma grande preocupação para mim. Espero que tenha a mesma preocupação. Sugiro que ponhamos de lado as nossas divergências de forma a salvarmos a criação. A defesa da natureza viva é um valor universal. Não resulta de nenhum dogma religioso ou ideológico, nem o promove. Ao invés, serve, sem discriminação, os interesses de toda a humanidade.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:34 link do post
26 de Agosto de 2008

 

Nuno Crato, célebre divulgador científico e matemático, professor de matemática e de estatística no ISEG, pró-reitor da UTL , para além de coordenador científico do centro de investigação Cemapre, foi premiado em 2003 com o primeiro lugar no concurso Public Awareness of Mathematics da Sociedade Europeia de Matemática e, mais recentemente – no último mês de Março – com um European Science Award (uff!). *

Mas o destaque que lhe dou neste espaço é motivado pela publicação pela Gradiva de dois belíssimos livros que assinou em 2007 e 2008, Passeio aleatório e A matemática das coisas, respectivamente.

Numa escrita clara e, ao mesmo tempo, transparente e certeiramente pedagógica, que revela, com marcante nitidez, um dom cada vez mais raro: o da facilidade e clareza de expressão; o autor transporta-nos, em Passeio aleatório, no seu jeito simples e convincente, para um mundo diferente cheio de referências e curiosidades científicas.

 

No livro A matemática das coisas, conta uma série de histórias matemáticas num tom coloquial e extremamente sedutor. Como se estivesse a participar numa conversa entre amigos sobre as coisas mais triviais que se passam no dia-a-dia. E o resultado pretendido é, claramente, conseguido.

Depois de percorridas todas as páginas dos dois livros, ficamos com a certeza de ter atravessado um dos caminhos mais originais e criativos sobre – atrevo-me a citar o autor - «tópicos tão diversos como os raios laser, os espelhos de Arquimedes, as luzes estranhas das discotecas ou a origem do clipe, as obras de Picasso, as transacções bancárias via internet, o número de portas das casas ou o papel A4».

Dois livros que, versando sobre temas complexos, se devoram com a maior das facilidades.

 

* Os dados sobre o autor foram retirados do livro «A matemática das coisas»

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