a dignidade da diferença
31 de Dezembro de 2012

 

Mantém-se o princípio que orientou a apresentação da lista dos meus livros preferidos, lidos durante o ano de 2012. E, dada a escassez de obras realmente interessantes, volto a conjugar filmes estreados nas salas de cinema com filmes editados no mercado de DVD, seguindo uma ordem alfabética. Não quero deixar de destacar, porém, o grande salto em frente que Miguel Gomes deu com o belíssimo Tabu, a notável edição a cargo da Midas Filmes da obra mais emblemática do húngaro Béla Tarr, ou a recordação do documentário de Marcel Ophuls Tristeza e Compaixão, admirável retrato de uma cidade francesa sob ocupação durante a Segunda Guerra Mundial. Por último, vale a pena recordar os prodigiosos filmes de Hitchcock e de Dreyer, cujos brilho, complexidade e intensidade demonstram ainda hoje que dificilmente serão meras peças de museu.

 

Moonrise Kingdom, Wes Anderson

 

Apollonide - Memórias de um Bordel, Bertrand Bonello

 

Cosmopolis, David Cronenberg

 

A Paixão de Joana D'Arc, Carl Th. Dreyer (DVD)

 

Tabu, Miguel Gomes

 

A Gruta dos Sonhos Perdidos, Werner Herzog

 

Vertigo - A Mulher Que Viveu Duas Vezes, Alfred Hitchcock

 

O Gebo e a Sombra, Manoel de Oliveira

 

Tristeza e Compaixão, Marcel Ophuls (DVD)

 

5 Filmes de Glauber Rocha (DVD)

 

O Cavalo de Turim, Béla Tarr

 

Volume I, 4 Filmes de Béla Tarr (DVD)

 

25 de Novembro de 2012

 

 

De Béla Tarr, no mercado português, só existia O Homem de Londres em DVD e a estreia comercial nas salas de cinema do último O Cavalo de Turim. Porém, com a recente edição a cargo da Midas Filmes de uma caixa com quatro dos seus filmes mais importantes, a obra do cineasta húngaro tem a possibilidade de alargar o seu culto em Portugal. Autor de um cinema que exige a máxima atenção e uma participação ativa do espectador e só a esse se entrega e se deixa descobrir plenamente, Tarr criou um universo cinematográfico único assente num retrato esmagador do mundo contemporâneo, um realismo árido e apocalíptico cuja visão nos conduz a uma camada da humanidade que vive sem esperança, cercada pela paisagem inóspita e eternamente condenada a um sacrifício que não leva a lugar nenhum. Metáfora do pesadelo comunista, da solidão e do sofrimento contemporâneos, a arte de Béla Tarr encontra nos longos planos-sequência, na densidade, na espessura e no contraste carregado do preto e branco, o meio adequado para nos contar a história derradeira da condição humana. O seu cinema distingue-se das outras linguagens pela forma como trabalha admiravelmente a imagem e o som, como constrói dramaticamente um espaço fechado ou coreografa o dilúvio que deixa aquela gente sem escapatória possível. Ao presenciar esta visão tão hipnótica, transcendente e poética, parece impossível evitar, usando uma expressão de João Lopes, a partilha duma «experiência sensorial e intelectual» absolutamente irrecusável, estimulante e irrepetível. Um olhar austero e desolador sobre personagens que se aproximam inevitavelmente do seu fim, onde a luz acaba e aquelas se sentem apenas acompanhadas por uma paisagem lamacenta e pelo tempo chuvoso, ventoso e extenuante. Danação, O Tango de Satanás, As Harmonias de Werckmeister e O Cavalo de Turim aí estão para combater a indiferença.

 

19 de Junho de 2012

 

O Cavalo de Turim ou, segundo Béla Tarr, «O insustentável peso do ser».

 

O protagonismo dos planos-sequência na descrição da humilhante degradação do dia-a-dia.

 

A expressividade da fotografia a preto-e-branco, reflexo notável do pessimismo do seu autor.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:25 link do post
08 de Fevereiro de 2009

 

BÉLA TARR, “A MAN FROM LONDON

 

Um funcionário de uma estação dos caminhos-de-ferro (Maloin) assiste, no momento em que os passageiros de Londres desembarcam e mudam de comboio, a um homicídio. O assassino desaparece e a vítima afoga-se na água com uma mala que trazia na mão. Maloin apanha a mala e abre-a. Qual não é o seu espanto quando verifica que está cheia de dinheiro. Depois de secar as notas molhadas, esconde a mala no seu armário.

Quando, posteriormente, é interrogado pela polícia, o protagonista não lhe revela o sucedido e age como se nada de anormal tivesse acontecido

Esta é a história (como se pode, aliás, verificar no verso da embalagem do DVD) que o cineasta Béla Tarr conta no seu último filme “O homem de Londres”. Mas como acontece com a maioria dos grandes autores, o que mais interessa neste filme existencialista e profundamente perturbador está muito para além da história que nos é narrada.

 

Tarr, apostando uma vez mais na dilacerante fotografia a preto-e-branco, acerta em cheio na forma como nos transmite o universo de desolação interior que se vai apossando de Maloin (magnificamente interpretado por Miroslav Krobot). Para isso, serve-se dos lentíssimos movimentos de câmara – possuidores de uma beleza plástica muito próxima da estética do mestre japonês Kenji Mizoguchi – e de uma obsessiva, arrepiante e extraordinaria banda sonora, que, por não terem nada de gratuito, descrevem com uma perfeição absoluta a angústia e a perturbação moral crescente que acompanham o protagonista principal do filme. Tudo para ele é um terrível e desesperante jogo sombrio: a decadente vida familiar, com uma mulher e uma filha que não consegue suportar, e uma profissão rotineira e entediante.

Com mão de mestre e uma visão muito particular sobre o modo como se deve fazer cinema, Béla Tarr ergue, perante os nossos olhos, um assombroso e visionário monumento estético, revelador do vazio existencial contemporâneo que se apoderou da grande maioria dos seres humanos, os quais se vão martirizando interiormente até atingirem, como único meio de salvação, uma incontrolável e redentora implosão final.

Uma obra-prima inesquecível, encenada de forma devastadora e dolorosa, mas com um rigor e detalhe prodigiosos.

Para quando a sua exibição numa sala de cinema comercial?

 

A man from London

publicado por adignidadedadiferenca às 23:06 link do post
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