a dignidade da diferença
07 de Dezembro de 2021

 

O-Homem-Infinito.jpg

 

«Este livro pretende relacionar e coser as dimensões estéticas, artísticas, filosóficas e pessoais da vida de Nadir, de modo a tentar fechar o círculo que as une. Quer destapar os porquês e descobrir o homem nessas interrogações. Para este projecto interessou, pois, encontrar os caminhos de Nadir Afonso Rodrigues, o homem, que o levaram até Nadir Afonso, o artista, o pensador – trilhos nos quais surgem, necessariamente, as suas obras plástica e ensaística, as quais decidi meramente reflectir e contextualizar, como o rosto ténue de alguém que se observa em águas calmas, a partir das palavras do próprio Nadir, de especialistas na sua obra ou dos seus familiares directos, os que o conhecem mais perfeitamente, e nunca a partir das minhas interpretações ou opiniões: o biógrafo é um espelho e não pode ambicionar a mais.» Guilherme Pires in «O Homem Infinito, Vida e Obra de Nadir Afonso»; biografia essencial que faz justiça ao pintor, arquitecto e pensador, bem como à criação de uma vasta e importante obra plástica (em que cabe, entre outros, o modernismo, o surrealismo, o expressionismo, o abstraccionismo e o realismo geométrico) - mal conhecida e insuficientemente divulgada -, cujos pioneirismo e originalidade das soluções estéticas e teóricas foram o fruto de um aturado e firme trabalho de reflexão rumo à essência da arte. Um «esboço interminável», nas palavras do biógrafo, que sobressai no contexto artístico contemporâneo.

publicado por adignidadedadiferenca às 23:17 link do post
22 de Dezembro de 2013

 

«Mas reconhecer assim o valor ontológico da estética é, ao mesmo tempo, apreender o seu alcance imediatamente cognitivo e normativo, e compreender que um dos aspectos maiores dos problemas civilizacionais que encontramos na viragem presente da nossa sociedade, que é também o momento em que esta tende a impor-se como referência e como norma planetária, reside na separação que nela se operou entre as dimensões estética, cognitiva e normativa do agir existencial, que se confunde com o modo de ser no mundo. Separado da vida comum e das suas exigências, dos seus fins, da sua vontade de ser, compartimentada na arte (da qual o revestimento estético de construções funcionais, a que o arquitecto procede, não é mais que um momento particular), a produção das formas, a busca expressiva da “beleza”, tornou-se, mais que qualquer outra produção, uma produção arbitrária, quando justamente devia ser o critério último do valor ontológico da nossa vida, sobretudo colectiva. E como a arquitectura, de todas as artes, é a que permanece ligada de mais perto à forma visível que a nossa acção colectiva toma no mundo, uma vez que continua a ser a que adere mais à técnica compreendida como preensão material exercida sobre o mundo e sobre nós próprios, uma vez que, enfim, é aquela em que a exigência da função que cada parte assume na vida do todo se exprime da maneira mais visível, poderíamos dizer que se trata para nós de reinventar, de redescobrir, de reassumir na arquitectura, normas, valores, finalidades que possam servir de critérios à sociedade.»

Michel Freitag, Arquitectura e Sociedade

16 de Agosto de 2011

 

 

A par da ortodoxia estética do socialismo dos países da Europa de leste, naturalmente integrada numa corrente ideológica assente numa construção simplista e esquemática, muitas outras opções estéticas, mais complexas e desalinhadas com o espírito da época, surgiram durante as décadas de 70, de 80 e de 90 do século passado. É o que se alcança após a leitura do magnífico CCCP Cosmic Communist Constructions Photographed, da autoria do fotógrafo Frédéric Chaubin (com edição da Taschen também em português), que retrata a arquitectura das repúblicas da antiga União Soviética. Assim, algo inesperadamente, objectos singulares e ousados, verdadeiro paradigma do modernismo, convivem com o imobilismo geral, construções diversificadas na forma e na utilização do espaço, enriquecidas por ínfimos detalhes, desafiavam escalas e recusavam esgotar-se naquele meio tão envelhecido e planificado.

 

 

 

  

Por outro lado, já o disco Between or Beyond the Iron Curtain, Rare Grooves from Eastern Europe 1967-1978, veio demonstrar, em 2001, que a música desses países não tinha necessariamente que obedecer aos parâmetros estético-políticos da ideologia dominante. O que por lá se fazia, como podemos constatar ao escutar Wojciech Karolak, Gustav Brom, Adam Makowicz, Novi Singers ou Jazz Celula, entre outros, era francamente inspirador. Desafios constantes às regras estabelecidas, desenhos melódicos e harmónicos obsessivos, dissonantes e atonais, explosões rítmicas esdrúxulas ou construções esculturais do mais fino recorte estético, habitavam o universo musical do leste europeu. Um objecto estético de referência, rico e moderno, com capacidade para não deixar ninguém envergonhado no confronto artístico com o mundo ocidental.

 

 

29 de Junho de 2011

A famosa Residência Tischler, Greenfield Avenue, Westwood (1949-1950) é um dos mais admiráveis exemplos do talento «escultural» de Schindler, das suas assombrosas formas arquitectónicas de exploração do espaço - uma espécie de fuga à mecanização racional -, configurando a síntese perfeita da evolução que foi sofrendo o seu vocabulário único, novo, funcional, verdadeiro paradigma do modernismo. Uma obra-prima, como, a propósito e com uma clareza notável, explica James Steele:

 

 

«A Residência Tischler apresenta uma fachada inescrutável para a estrada, um telhado de empena de madeira dividido ao meio por uma fina clarabóia vertical. Tudo isto assenta numa base de estuque com uma forma de T invertido com portas para a garagem ao nível da estrada, sob o que parece ser, visto da Greenfield Avenue, uma unidade compacta de três andares, mas que de facto é apenas o princípio de um plano horizontal alongado que roda a 180º do seu centro para se relacionar com a vista do jardim. O telhado de empena uma vez mais parece flutuar acima das paredes, especialmente porque Schindler utilizou painéis de fibra de vidro azuis translúcidos para permitir que a luz seja filtrada pelos caibros numa das mais expressionistas exibições perto do final da sua carreira.» (Tradução de Constança Santana)

publicado por adignidadedadiferenca às 00:11 link do post
22 de Janeiro de 2011

  

 

Na edição escrita do semanário Expresso, que saiu esta manhã (primeiro caderno), deparámos com uma notícia que entristece qualquer um: «Obras-primas da arquitectura portuguesa votadas ao abandono». Não sei o que se poderá fazer em concreto para inverter a situação, nem quais as razões que contribuíram para este avançado estado de degradação. Mas dói ver como a nossa história e o nosso património cultural são tal maltratados e correm o sério risco de desaparecer. Trata-se de duas obras da autoria dos arquitectos Fernando Távora e Viana de Lima, construídas na década de 1950, ambas localizadas no concelho de Esposende. Deram um contributo assinalável para a renovação estética da arquitectura moderna portuguesa e são um marco importante da sua história. E se a solução para o acentuado estado de degradação da casa assinada por Fernando Távora foi bloqueada por questões de heranças, já a casa de Viana de Lima vai, contra o acentuado pessimismo geral, passar por um louvável processo de recuperação. Enfim, mesmo nas más notícias há, por vezes, coisas boas. 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:08 link do post
28 de Maio de 2010

 

David Underwood, professor de Humanidades e História da Arte no St. Petersburg College, na Flórida, procura, neste livro, «dissipar uma concepção corrente da crítica, a de que a contribuição da obra de Oscar Niemeyer para a arquitectura moderna tem um carácter essencialmente formal. Para isso, analisa os variados contextos com os quais o arquitecto trabalhou – físico, cultural, político e teórico, entre outros – e que elucidam intenções e sentidos por trás de suas inovações (*)».

O autor compara a obra de Niemeyer, e sua muito particular utopia da beleza, com as mais relevantes realizações de forma livre do pós-guerra na Europa e na América do Norte e, sobretudo, destaca «a evolução de um traço distintamente brasileiro da forma livre, que exalta a plasticidade inerente da curva nativa ante a rígida postura rectilínea do Estilo Internacional (*)».

Um belíssimo trabalho sobre a visão estética e o percurso persistente do grande modernista brasileiro, o qual justifica uma leitura atenta, merecendo igual destaque as fotos de Marcel Gautherot.

 

(*) Da contracapa do livro editado pela Cosac & Naify.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:15 link do post
17 de Agosto de 2008

 

 

A propósito da exposição que o Museu Colecção Berardo trouxe de 19 de Maio a 17 de Agosto (foi hoje, portanto, o último dia) sobre Le Corbusier, por muitos considerado um dos mais importantes arquitectos do século XX, deixo aqui uma pequena recordação de obras da sua autoria.

Le Corbusier (de seu verdadeiro nome Charles-Édouard Jeanneret-Gris) nasceu em 1887 em La Chaux-de-Fonds, na Suíça, vindo a naturalizar-se, mais tarde, francês.Foi arquitecto, pintor, designer, escritor urbanista e coleccionador. Muito resumidamente, merecem destaque duas ou três coisas: Estuda arte aplicada em La Chaux-de-Fonds, onde constrói as suas primeiras obras, completando a sua formação viajando pela Europa.

 

Entusiasma-se com as construções e as paisagens mediterrâneas, funda, no ano de 1918, em Paris, o «purismo» com Amédée Ozefant – onde desaprova o cubismo e opta pelo rigoroso desenho do objecto. As suas ideias sobre arquitectura e urbanismo modernos são divulgadas na revista «L’Esprit Nouveau». Faz imensos estudos urbanísticos pelos quatro cantos do mundo (desde Moscovo até à América do Sul, não esquecendo o norte de África e a Índia) e é, ainda, participante activo nos Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna. Faleceu em 1965.

 

A exposição que se viu no Centro Cultural de Belém é do Vitra Design Museum, em colaboração com o Royal Institute of British Architects e o Netherlands Architecture Institute. Intitulada «Arte da Arquitectura», a exposição dividiu-se em três módulos autónomos: «Contextos», «Privacidade e publicidade» e «Arte construída» - testemunhando, como complemento, o encontro do fotógrafo Lucien Hervé com Le Corbusier -, que, de forma extremamente feliz, sintetizam as várias caras desta extraordinária personalidade.

 

 

04 de Maio de 2008

 

 

 

 

A edição de que vou falar já pertence ao mês de Março, mas foi aí que tive o primeiro contacto com a revista «Arquitectura e vida», onde um magnífico artigo (ou texto crítico, como lhe chama o autor Alexandre Marques Pereira) sobre o Condomínio da Vinha, situado no Bairro Alto, reflecte sobre a ligação  que se vai perdendo entre a Arquitectura e a cidade, lamentando o autor «as mais recentes práticas da arquitectura, reduzindo-a a um mero conceito de objecto, seguindo apenas uma lógica contaminada pelo design e certas práticas do mundo das artes plásticas».

Uma revista feita não só para quem faz da arquitectura a sua profissão, mas francamente apelativa a meros curiosos ou a pessoas razoavelmente interessadas registando, nesse número, outros textos que nos ajudam a compreender melhor a articulação da forma arquitectónica com o meio e nos mostram como podem existir bonitas «casas-lofts» concebidas com sobriedade e cheias de vazios. Mais para diante, ainda há espaço para nos explicarem como as variações atmosféricas, provocadas pelo (ab)uso de combustíveis fósseis, contribuíram imenso para a degradação das superfícies arquitectónicas, terminando este número com um excelente trabalho sobre a caracterização das pontes antigas.

E aproveito a embalagem, dada pelo texto publicado pelo arquitecto Alexandre Marques Pereira, para aconselhar o clássico livro de Aldo Rossi «A arquitectura da cidade», publicado pelas Edições Cosmos que, como é destacado no artigo da revista, aborda, num conjunto riquíssimo de idéias sobre o papel fundamental das cidades,  questões essenciais como sejam a relação entre Tipo, Modelo e Arquitectura como Facto Urbano.

 

 

 

E como o mundo continua a avançar, aconselho, igualmente, a leitura do livro «Viver a arquitectura» do professor Steen Eiler Rasmussen, que escreve sobre os edifícios que todos habitamos e adaptamos à nossa forma de viver, ou seja, dá-nos a sua visão funcional da arquitectura e, não esquecendo muitos outros pensamentos, reflecte sobre o como perceber as coisas que nos rodeiam. A ler, positivamente, até porque a linguagem utilizada não se destina apenas a profissionais.

 

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