«O resultado é geralmente uma dicotomia simples que apresenta os europeus como os agentes invariáveis do progresso num mundo que noutras partes continua agarrado à tradição. Já vimos que esta visão é difícil de sustentar. Existem três outras dificuldades. Em primeiro lugar, os elementos da modernidade (…) raramente se encontravam todos numa única sociedade. Em grande parte da Europa mal se descortinavam até tempos muito recentes. Mesmo aqueles países que consideramos os pioneiros da modernidade tinham fortes características pré-modernas. A escravatura foi legal nos Estados Unidos até 1863. A classe dirigente da Grã-Bretanha vitoriana era, de um modo geral, hereditária, e a religião continuava a ser crucial para a aspiração social e para a identidade. A América do século XX era uma sociedade de castas cujo distintivo era a cor da pele, usada para negar direitos civis e políticos a um grande segmento social até aos anos 60 ou mais tarde. A França pós-revolucionária circunscreveu os Direitos do Homem aos homens até 1945, quando as mulheres conquistaram o direito de voto. (…) A Alemanha nazi ou a Rússia soviética eram modernas? (…) Em segundo lugar, algumas das características essenciais da modernidade convencional encontravam-se também em regiões da Eurásia muito distantes da Europa. O caso clássico é a China, que desenvolveu uma burocracia moderna e meritocrática, uma economia comercial e uma cultura tecnológica muito antes da Europa. (…) Em terceiro lugar (…) parece possível que a expansão da Europa representou em parte um assalto deliberado às iniciativas modernizadoras de outros povos e Estados. O que terá vencido, talvez, não foi a modernidade da Europa mas a sua capacidade superior para a violência organizada.»
John Darwin, in “After Tamerlane. The Global History of Empire”