a dignidade da diferença
23 de Fevereiro de 2015

 

o rei da comédia.jpg

 

The King of Comedy (1983) descreve em tom de comédia negra a história de Rupert Pupkin (superiormente interpretado por Robert de Niro), banal candidato a vedeta, anseia por aparecer no show televisivo do comediante que mais admira. Até o conseguir, Pupkin, personagem mentalmente instável, persegue desesperadamente a vedeta televisiva - papel que o cineasta Martin Scorsese, num magnífico e inesperado golpe de asa, entrega a Jerry Lewis, compondo a sua personagem entre uma solidão extrema e o desdém pelos admiradores, precisamente o oposto da imagem clássica criada pelo genial comediante - transformando essa perseguição num verdadeiro pesadelo, tragédia de indivíduos impossível de resgatar, na qual a utopia do protagonista cede lentamente o seu lugar à cruel evidência da realidade. Verdadeiro fracasso de bilheteira e ainda hoje injustificadamente mal-amado pela crítica especializada, The King of Comedy é simultaneamente uma sátira cruel do culto das celebridades e uma peça fundamental sobre as relações entre o cinema e a televisão, onde esta última surge como raiz determinante de todas as ilusões: sociais, individuais e colectivas. Arrancando aparentemente como uma simples paródia interna do género cómico, o cinema de Scorsese especializa-se uma vez mais na demanda pelos destinos individuais dos seus protagonistas e suas múltiplas e fascinantes contradições.

 

 

15 de Fevereiro de 2015

jorge buescu.png

 

«A matemática é, das áreas de expressão humana, uma das que melhor passam o teste da duração. Há afirmações matemáticas que provadas há vinte e cinco séculos que são tão verdadeiras hoje como eram quando foram estabelecidas. (…) O facto de as afirmações matemáticas terem prazos de validade superiores aos da maioria das outras, em particular as urgentes notícias do dia e crónicas da semana, precisa de uma explicação, que tem que ver com a própria natureza desta área do conhecimento. A matemática (…) não é a ciência das contas complicadas nem das figuras esquisitas. A matemática é a ciência das conclusões necessárias, das afirmações que se provam, com rigor lógico, a partir de outras anteriores. (…) A busca dessas afirmações, necessariamente anterior à prova, envolve muitas componentes, como a consideração de problemas em aberto, a intuição, as heurísticas, a indução a partir de casos particulares, o impulso abstractizante, a observação física, a simulação estatística ou computacional, a procura de padrões, a formulação de conjecturas. Tudo isto é parte importante da actividade matemática. Mas só depois do raciocínio lógico conclusivo há afirmações verdadeiramente matemáticas. O que distingue a matemática não é, então, o seu objecto, mas sim a metodologia de validação dos seus resultados. (…) A perenidade da matemática é um dos factores que tornam os textos de Jorge Buescu fascinantes. Ele conta-nos histórias surpreendentes, por vezes a partir de observações do mundo quotidiano, o que de resto ilustra mais uma vez a presença da matemática na vida.(…) Um divulgador é um “intermediário” entre o mundo da matemática e o grande público (…) Jorge Buescu é um tal intermediário. Mas é-o de um tipo especial, primeiro porque é um matemático a sério, e sabe do que fala, e depois porque não tem medo de abordar temas difíceis, o que faz de modo a não afugentar os leitores dispostos a não desistir ao fim da primeira página.»

João Filipe Queiró, Prefácio do livro de Jorge Buescu

08 de Fevereiro de 2015

josé vilhena

 José Vilhena

 

Ainda a propósito da chacina no jornal satírico Charlie Hebdo, devo dizer, quanto à liberdade de expressão e aos seus supostos limites, que o problema da democracia, como aliás sempre suspeitei, estará na intransigência e (in) capacidade de encaixe dos eventuais visados. Já em 1976, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem clarificou brilhantemente esta matéria, como se pode constatar neste excerto do acórdão: «A liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou ideias acolhidas com fervor ou consideradas inofensivas, mas também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam o Estado ou uma qualquer fracção da população. Assim exige o pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem os quais não há sociedade democrática.» Ou seja, para a liberdade de expressão não pode haver limites, excepto nos casos já legalmente previstos da injúria ou difamação, os quais, como se deveria saber, não incluem a ofensa às religiões. De resto, para que serviria o humor se a sua principal função não fosse chocar, ferir ou incomodar? Qualquer dia não se pode rir de nada. Teríamos, infelizmente, o leitor e eu, que conviver em regime de exclusividade com esse tipo de humor inofensivo, sem sal e sem graça que todos os dias invade maioritariamente os jornais, os canais de televisão e as estações de rádio mainstream.

 

euro

publicado por adignidadedadiferenca às 19:30 link do post
02 de Fevereiro de 2015

pj harvey 2.jpg

 

Após um primeiro passo rumo à mudança de orientação estética dado com o surpreendente White Chalk, Polly Jean Harvey investe novamente, no opus seguinte - Let England Shake, publicado em 2010 -, num distanciamento progressivo da herança descarnada do punk e do blues que alimentou o capítulo inicial do seu já assinalável percurso musical, o qual atinge a sua máxima expressão na teatral dramatização e na sedutora imoralidade do soberbo To Bring You My Love. Elaborado num contexto de enganador apaziguamento sonoro e reunindo, com uma precisão notável, texto, ritmo e melodia, Let England Shake serve ainda de pretexto para PJ Harvey, em doze envinagrados episódios, fazer a ponte entre o desmedido morticínio da Primeira Guerra Mundial e a hipocrisia política do mundo contemporâneo, nele sobressaindo as extremas elegância, agilidade e concisão da inventiva estrutura musical, desenvolvendo uma combinação inesperada e admirável com a amargura e o terror das magníficas e radicais súplicas verbais. Um disco extraordinário, imprescindível em qualquer discoteca básica.

All and Everyone

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