a dignidade da diferença
29 de Dezembro de 2013

Mantém-se o critério que orientou a elaboração da lista dos meus livros preferidos de 2013: doze filmes (sendo do mesmo cineasta e tratando-se de obras que se complementam, o díptico de Ozu conta como um), correspondendo a um filme por cada mês de calendário. Contudo, dada a relativa escassez de obras que merecem ser efectivamente realçadas, volto a conjugar na minha lista filmes estreados nas salas de cinema com filmes editados no mercado de DVD, sem me preocupar com géneros ou hierarquias. Não quero, porém, deixar de referir a edição em DVD da monumental da Tetralogia do Poder, do russo Aleksandr Sokurov, assim como a notável edição a cargo da Midas Filmes da magnífica, raríssima e injustamente ignorada obra de Victor Erice. Quanto aos filmes estreados nas salas de cinema, é de louvar a resistência das pequenas distribuidoras independentes, direcionadas para uma minoria cinéfila, culta e interessada. E ainda, acima de todas, as obras do genial Ozu, realizadas em 1953 e 1962, e finalmente estradas comercialmente em Portugal, Viagem a Tóquio e O Gosto do Saké.

 

 Paul Thomas Anderson, O Mentor

 

Terence Davies, O Profundo Mar Azul 

 

 Victor Erice, Obra Completa (DVD)

 

Matteo Garrone, Reality

 

James Gray, Coleção de 3 Filmes (DVD)

 

Pablo Larraín, Não

 

Yasujiro Ozu, Viagem a Tóquio

 

Yasujiro Ozu, O Gosto do Saké

 

 Christian Petzold, Barbara

 

Hong Sang-soo, Noutro País

 

Aleksandr Sokurov, Tetralogia do Poder (DVD)

  

Quentin Tarantino, Django Libertado

 

Margarethe Von Trotta, Hannah Arendt

28 de Dezembro de 2013

Face à dimensão quase estratosférica de obras que foram publicadas durante o ano e à impossibilidade física de aceder a um número mínimo exigível que permita ficar com uma ideia aceitável das publicações relevantes no domínio da criação literária, apresentar uma lista dos melhores livros do ano é, cada vez mais, uma tarefa francamente ingrata. Subsiste por isso o critério utilizado no último ano: escolher de memória os livros que mais me agradaram, sem preocupações de género ou de hierarquia. Uma lista de doze livros (nacionais e estrangeiros) - quantidade só possível de atingir com o contributo dos dois volumes da História da Minha Vida, de Giacomo Casanova -, equivalente a um por cada mês de calendário, discretamente organizada por simples ordem alfabética. Falta o destaque mais ou menos óbvio de Servidões, do Herberto Hélder - pelo menos, a avaliar pela dimensão transcendente da sua obra passada -, mas não consegui apanhar o livro. Também não entra na lista, mas podia entrar, o livro com a recolha dos escritos de Claudio Magris, publicados em jornais nos últimos dez anos, intitulado Alfabetos. Porém, só agora tive a oportunidade de lhe pegar...

 

 Giacomo Casanova, História da Minha Vida (2 volumes)

 

 Pedro Correia, Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico

 

 Carlos Fuentes, Contos Sobrenaturais

 

Ben Goldacre, Farmacêuticas da Treta

 

Knut Hamsun, Mistérios

 

Henry James, O Aperto do Parafuso

 

Jacques Rancière, Béla Tarr O Tempo do Depois

 

Gustavo Sampaio, Os Privilegiados

 

Lee Smolin, O Romper das Cordas

 

Hjalmar Söderberg, O Jogo Sério

 

Dalton Trevisan, A Trombeta do Anjo Vingador

22 de Dezembro de 2013

 

«Mas reconhecer assim o valor ontológico da estética é, ao mesmo tempo, apreender o seu alcance imediatamente cognitivo e normativo, e compreender que um dos aspectos maiores dos problemas civilizacionais que encontramos na viragem presente da nossa sociedade, que é também o momento em que esta tende a impor-se como referência e como norma planetária, reside na separação que nela se operou entre as dimensões estética, cognitiva e normativa do agir existencial, que se confunde com o modo de ser no mundo. Separado da vida comum e das suas exigências, dos seus fins, da sua vontade de ser, compartimentada na arte (da qual o revestimento estético de construções funcionais, a que o arquitecto procede, não é mais que um momento particular), a produção das formas, a busca expressiva da “beleza”, tornou-se, mais que qualquer outra produção, uma produção arbitrária, quando justamente devia ser o critério último do valor ontológico da nossa vida, sobretudo colectiva. E como a arquitectura, de todas as artes, é a que permanece ligada de mais perto à forma visível que a nossa acção colectiva toma no mundo, uma vez que continua a ser a que adere mais à técnica compreendida como preensão material exercida sobre o mundo e sobre nós próprios, uma vez que, enfim, é aquela em que a exigência da função que cada parte assume na vida do todo se exprime da maneira mais visível, poderíamos dizer que se trata para nós de reinventar, de redescobrir, de reassumir na arquitectura, normas, valores, finalidades que possam servir de critérios à sociedade.»

Michel Freitag, Arquitectura e Sociedade

15 de Dezembro de 2013

 

Moloch

 

Realizado pelo russo Aleksandr Sokurov, em 1999, Moloch traça o quotidiano e a vida interior de Hitler e Eva Braun, um delírio ficcional que explora com profundidade a tensão psicológica que implode e mina um fim-de-semana em que o casal recebe um grupo de convidados na casa de campo do Führer. Dois anos depois, Taurus aborda os últimos momentos de vida de um Lenine moribundo, o modo como enfrenta a morte que se aproxima. É um retrato denso sobre a sua solidão, impotência, desintegração e perda de consciência. O imperador Hirohito é o terceiro ditador escolhido por Sokurov. O Sol, trabalhado na sua máxima depuração e complexidade, concluído em 2005, avalia o comportamento do imperador nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, quando decide pôr fim à resistência japonesa e acabar com as hostilidades.

 

Taurus

 

Por último, Fausto, vencedor do Festival de Veneza de 2011 e o único dos quatro filmes do autor russo a passar pelo circuito comercial do nosso país, baseia-se na primeira parte da tragédia de Goethe (embora não se trate de uma adaptação linear): em troca da promessa de dinheiro e da mulher que deseja, Fausto deixa-se manipular por um indescritível Mefistófeles. Sokurov concebe um prodigioso universo de imagens criando no espectador a mais pura estupefação perante a alquimia de um espaço onde abandona a sua personagem à fatalidade. Fausto, vertiginoso e fascinante, um misto de beleza e horror, completa a obra do cineasta russo estruturada sob a figura destrutiva do poder, na qual o seu autor idealiza actualmente a mais consistente relação do cinema com a pintura, com um notável trabalho pictórico ao serviço da narrativa que faz da sua filmografia um objeto único e irrepetível. A Leopardo Filmes, numa feliz iniciativa, acabou de lançar esta tetralogia do poder no mercado videográfico.

 

Faust

publicado por adignidadedadiferenca às 20:09 link do post
05 de Dezembro de 2013

 

 

«Na sua vida, cada homem tem duas obrigações – deveres para com a família, os pais, a mulher e os filhos; e uma obrigação para com o seu povo, a sua comunidade, o seu país. Numa sociedade civilizada e humana, cada homem tem a oportunidade de cumprir esses deveres de acordo com as suas inclinações e capacidades. Mas, num país como a África do Sul, era quase impossível para um homem da minha proveniência e cor desempenhar essas obrigações. Na África do Sul, um homem de cor que tentasse viver como um ser humano era punido e isolado. Na África do Sul, um homem que tentasse cumprir o seu dever para com o seu povo era inevitavelmente arrancado à sua família e ao seu lar e obrigado a viver uma vida à parte, uma existência crepuscular de clandestinidade e rebelião.»

Nelson Mandela, Longo Caminho Para a liberdade.

01 de Dezembro de 2013

 

 

Cruzamento dos polos musicais oriundos dos Plexus e da Filarmónica Fraude (cuja obra também merecia uma reedição urgente), a Banda do Casaco, quando nasce, reúne no seu seio as ideias e o espírito desalinhados dos seus fundadores essenciais, Nuno Rodrigues (compositor) e António Pinho (autor dos textos), sujeitando-se a sucessivas alterações dos seus membros - por lá passou alguma da nata de músicos portugueses. Politicamente agnóstica – na feliz expressão do crítico João Lisboa -, embora participante e opinativa, a Banda do Casaco, numa época politicamente tão marcada – os anos setenta e a primeira metade dos anos oitenta do século passado –, fez naturalmente um percurso estético permanentemente contra a corrente do pensamento então dominante. Simultaneamente provocador, satírico, tradicional e experimentalista, o grupo de Nuno Rodrigues e António Pinho criou um portentoso cocktail sonoro de música medieval, música tradicional portuguesa, andamentos jazzísticos, pop-folk de câmara, convulsões rítmico-melódicas e deliciosos devaneios poéticos.

 

 

Intercalando no seu peculiar laboratório de experimentação pequenas sugestões musicais labirínticas e flutuantes e uma sedutora visão anarco-surrealista, a sua obra foi evoluindo da tradição inicial (cujo pendor medieval já estava, felizmente, contaminado por elementos estranhos ao mesmo), até atingir a pura abstração sonora – com o precioso auxílio da voz imaterial de Né Ladeiras - de Também Eu (1982), atravessando o rigor cénico e a agilidade instrumental no desenvolvimento dos sobressaltos estéticos de Coisas do Arco da Velha (1976), Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos (1976), Contos da Barbearia (1978) e o salto arquitetónico de uma música que abdica sempre da sua zona de conforto de  No Jardim da Celeste (1980). Se, até à data, era praticamente impossível aos seus admiradores reunir a obra integral da Banda do Casaco (Contos da Barbearia, por exemplo, nunca esteve disponível em CD), de Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios (1975) ao algo incompreendido artificialismo sonoro de Com Ti Chitas (1984), eis que ela surge agora em duas magníficas caixas (vermelha e negra), com o som remasterizado por José Fortes, as quais ainda oferecem como bónus um conjunto de gravações inéditas, as origens prévias à identidade da Banda do Casaco e um DVD com excertos de concertos ao vivo. Obviamente, reedição do ano.

 

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