a dignidade da diferença
27 de Outubro de 2012

 

 

Além da ânsia pela novidade e do consequente enfrentamento com os gostos de uma parte da sociedade, existe outra característica definidora das vanguardas: a busca de respostas às novas necessidades. E este é o argumento mais progressista das vanguardas que tem, como último objetivo, uma certa crítica ao modelo de sociedade predominante e a busca de propostas de transformação adequadas ao espírito dos tempos vindouros. Este argumento de crítica e transformação social justifica o mecanismo da abstração e da prática sistemática da rutura com as linguagens estabelecidas. Isto manifesta-se no que se denominam neovanguardas: aqueles movimentos que recuperam o culto ao novo e ao estranho e que tentam superar os condicionamentos da tradição e das convenções. (…) Entretanto, o movimento das vanguardas – com sua vontade de rutura com a tradição, culto à novidade e à originalidade, exploração de novas formas abstratas adequadas aos novos tempos, ânsia de transgressão dos limites estabelecidos, recriação das reproduções mecânicas geradas pelas novas tecnologias – volta a aparecer como uma necessidade permanente. É possível falar de vanguarda quando conceitos como modernidade ou Zeitgeist estão censurados, quando práticas desconstrutivistas e pós-modernas desvelaram as ficções e mitos das vanguardas? O que as neovanguardas anunciam de futuro e frívolos jogos à moda e de nostalgia das autênticas vanguardas? O que ocorre quando as vanguardas se institucionalizam e conseguem converter-se em Academia, em gosto estabelecido? É neste momento quando os novos artistas devem eleger entre esta vanguarda domesticada ou a liberdade. Manfredo Tafuri já havia falado, em Teorie e storia dell’architettura (1968), «da dificuldade que as gerações mais jovens encontram para abandonar o mito de uma vanguarda perene» E mesmo que este desejo já tenha sido revelado como mito e como contínua frustração, cada geração e cada momento histórico lança novamente o velho apelo da vanguarda. Um esforço necessário para a evolução da arquitetura.  

A Modernidade Superada, de Josep Maria Montaner.

 

20 de Outubro de 2012

 

 

Com a morte de Manuel António Pina (1943-2012), o edifício da poesia portuguesa perdeu um dos seus alicerces mais sólidos, valiosos e profundos. Manuel António Pina foi autor de uma obra assaz escassa que foi melhorando com a idade, cuja escrita fina sintetizou admiravelmente a sua posição desencantada sobre o mundo, o prazer na construção de jogos de palavras labirínticos - que procurava ajudar depois a decifrar -, o seu olhar reflexivo, inquiridor e melancólico sobre as pessoas e o espaço que as rodeia, e uma permanente oposição entre conhecimento e esquecimento, não raras vezes esculpida em talhadas de humor e inconformismo. Em suma, uma criação literária densa, de assinalável inquietação e sobriedade, irreverente, telúrica, incómoda, terrível até, sobretudo quando se confronta com a doença e o inevitável envelhecimento; a qual se expandiu numa forma ímpar e inventiva de descrever o mundo, justamente premiada com o Prémio Camões, cuja substância e riqueza estilística mereciam mais que um pequeno texto incapaz de o homenagear satisfatoriamente.

 

 

 

O Regresso

 

Como quem, vindo de países distantes fora de

si, chega finalmente aonde sempre esteve

e encontra tudo no seu lugar,

o passado no passado, o presente no presente,

assim chega o viajante à tardia idade

em que se confundem ele e o caminho.

 

Entra então pela primeira vez na sua casa

e deita-se pela primeira vez na sua cama.

Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,

cidades, estações do ano.

E como agora por fim um pão primeiro

sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 11:44 link do post
14 de Outubro de 2012

 

 

Veckatimest (de 2009) era (e ainda é) um admirável conjunto de canções pop detalhadas e complexas, ricamente bordadas e orquestradas, as quais nunca perdem o rumo e são superior e inesperadamente embrulhadas em magníficos corais herdados do património mais qualificado dos Beach Boys. Shields, o seu mais recente trabalho, não traz nada de muito novo mas prossegue de forma inventiva e adotando uma perspetiva mais contemplativa, o caminho estruturalmente psicadélico e desconstrutivo de uma pop inteligente, elaborada e sofisticada, mas cujas canções nunca chegam a perder de vista aquela matéria emocional capaz de nos tocar o coração. Da mesma família dos notáveis Dirty Projectors (ainda não escutei o último álbum), Field Music, St. Vincent (co-autora, com David Byrne, do novíssimo e meritório Love This Giant), My Brightest Diamond ou Efterklang. Um dos melhores e mais exigentes discos do ano.

 

Yet Again

06 de Outubro de 2012

 

 

«A procura espontânea de uma solução intuitiva por vezes falha – nem uma solução de especialista nem uma resposta heurística surgem na mente. Em tais casos, descobrimo-nos a mudar para uma mais lenta, mais deliberada e mais esforçada forma de pensar. É o pensar devagar do título. Pensar depressa inclui as duas variantes do pensamento intuitivo – a de especialista e a heurística -, bem como as atividades mentais inteiramente automáticas da perceção e da memória, operações essas que nos permitem saber que está um candeeiro sobre a mesa, ou relembrar o nome da capital da Rússia. A distinção entre pensar depressa e pensar devagar foi explorada por muitos psicólogos durante os últimos vinte anos. Por razões que explicarei mais detalhadamente no próximo capítulo, descrevo a vida mental através da metáfora de dois agentes, chamados Sistema 1 e Sistema 2, que produzem respetivamente o pensar depressa e o pensar devagar. Falo das características do pensamento intuitivo e do deliberado como se fossem traços e disposições de duas personagens na nossa mente. Na imagem que emerge da investigação recente, o intuitivo Sistema 1 é mais influente do que aquilo que a nossa experiência nos diz e é o autor secreto de muitas escolhas e juízos que fazemos. A maior parte deste livro é acerca do funcionamento do Sistema 1 e das influências mútuas entre ele e o Sistema 2.»

Pensar, Depressa e Devagar, de Daniel Kahneman (tradução de Pedro Vidal). 

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