a dignidade da diferença
31 de Dezembro de 2010

 

E depois dos livros, os filmes. Este ano não tive oportunidade de ver muitos, face às circunstâncias da vida, isto é, por força dos estudos, os quais me limitaram o tempo disponível para me dedicar a outras coisas. Ainda assim, vi uns quantos que deixaram as suas marcas. Fazem, por essa razão, parte desta pequena lista. E como os que vi nas salas de cinema foram em número reduzido, junto mais uma mão cheia de filmes editados em DVD. Eis, então, a minha lista.

 

 

Luís Buñuel, O Anjo Exterminador (DVD)

  

 

Sylvain Chomet, O Mágico

  

 

John Ford, O Homem Tranquilo (DVD)

 

 

Michael Haneke, O Laço Branco

 

 

Ernst Lubitsch, Uma Mulher Para Dois (DVD)

 

 

Brillante Mendoza, Lola

 

 

Roman Polanski, O Escritor Fantasma

 

 

Martin Scorsese, Shutter Island

 

 

Lee Unkrich, Toy Story 3

 

 

Raoul Walsh, Núpcias Trágicas (DVD)

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:12 link do post
31 de Dezembro de 2010

 

Para quem frequenta este blogue, com alguma assiduidade, o conceito ínsito à lista dos melhores do ano já não traz qualquer novidade; no mundo contemporâneo torna-se impossível nomear os melhores. O que talvez possamos conseguir é revelar um pequeno nicho de obras que nos marcaram durante o ano que agora finda, as quais gostaríamos de partilhar com quem nos visita e dá o prazer da sua companhia. Da ficção à poesia, do ensaio à filosofia, passando pela crítica literária ou pela divulgação científica, este ano trouxe-nos a edição de muitos e bons livros para ler: os clássicos do século vinte de Knut Hamsun e Nabokov, a idade de oiro da novela russa, a poesia de Emily Dickinson, Cervantes, Kierkegaard, o último e delicioso livre de Peter Carey, que nos devolveu o espírito de Tocqueville, o muito belo romance de Hélia Correia (único destaque português) ou, para terminar, a nobreza do ensaio e da crítica literária transmitida pelos melhores artesãos nessa área: George Steiner e James Wood. Passamos por tempos difíceis e conflituosos, mas, ainda assim, haverá sempre bons motivos para ler.

 

 

Peter Carey, Parrot e Olivier na América

  

 

Knut Hamsun, Pan

 

 

Søren Kierkegaard, Temor e Tremor

 

 

Norman Manea, O Regresso do Hooligan

 

 

Vladimir Nabokov, Desespero

 

 

Saltykov-Shchedrin, A Família Golovliov

 

 

Simon Singh, Big Bang

 

 

George Steiner, The New Yorker

 

 

James Wood, A Mecânica da Ficção

 

 

Dostoievski, Andréev e Tolstoi, Contos Russos

27 de Dezembro de 2010

 

 

O genial cineasta Sergei Eisenstein, natural de Riga, onde nasceu a 23 de Janeiro de 1898, explica como, nas mãos certas, a forma é, pelo menos, tão importante como o conteúdo. A sua importância cresce consoante a finalidade que lhe é atribuída. Uns trabalham-na como estéreis exercícios de estilo, como meras imagens de retórica. Mas há quem a faça agir directamente sobre o conteúdo, isto é, quem a utilize, por exemplo, para densificar, temperar, dramatizar ou dar espessura a um discurso, uma mensagem que se pretende fazer passar. Nessas mãos - as certas -, aquilo que seria o objecto formal transforma-se, milagrosamente, no objecto material. A forma torna-se a substância, o conteúdo. Poucos o souberam explicar tão bem como Eisenstein num texto magnífico intitulado Sobre a questão de uma aproximação materialista da forma, em 1925. Deixo-vos aqui um excerto.

 

 

«Com “A Greve”, ao contrário, temos o primeiro exemplo de arte revolucionária onde a forma se mostra mais revolucionária que o conteúdo. E, a novidade revolucionária de “A Greve” não resulta em absoluto de que o seu conteúdo – o movimento revolucionário – tenha sido historicamente um fenómeno de massas, e não individual – é tudo isto, dizem, a ausência de intriga, de protagonista, etc., que caracteriza “A Greve”, como “o primeiro filme proletário” – mas ao contrário, de que o filme proponha um “processo” formal bem determinado para enfrentar a descoberta de uma imensa quantidade de material histórico-revolucionário no seu conjunto. O material (…) foi examinado pela primeira vez, sob um ângulo visual correcto: os seus momentos característicos foram examinados como outras tantas fases de um processo único do ponto de vista da sua natureza “produtiva”. (…) A forma de elaboração do conteúdo em função do assunto – no nosso caso o processo, aplicado pela primeira vez, de montagem do argumento (…) e a própria escolha justa do ângulo visual em relação ao material – revelaram-se ser, no nosso caso, uma consequência da compreensão formal fundamental do material proposto, que dizer, do “artifício” fundamental, formalmente inovador, que a encenação traz à construção do filme, artifício que foi determinado (historicamente) em primeiro lugar. (…) Falando da forma de “A Greve”, só pessoas muito ignorantes podem comentar as “contradições entre as exigências ideológicas e os desvios formais do realizador”; é tempo que certas pessoas compreendam que a forma é determinada a um nível muito profundo e não através de algum pequeno “truque” superficial mais ou menos feliz.»

In Ramos, Jorge Leitão, Sergei Eisenstein, 1981, Livros Horizonte, Lisboa.

publicado por adignidadedadiferenca às 00:50 link do post
24 de Dezembro de 2010

 

 

A ECM, que tem vindo a correr o risco de cristalizar o seu traje musical, editou recentemente The Rub and Spare Change, de Michael Formanek, belíssimo disco de jazz que, sem se desviar do figurino estético que a marcou, alarga os seus horizontes num puzzle sonoro que procura o equilíbrio perfeito entre arrojo, inovação e complexidade, o qual actua como contraponto de uma outra matriz mais serena, discreta, simples, melódica e sedutora. Consegue-o num gesto magnífico que foge exemplarmente ao bolorento, formatado e bem-educado mainstream agitando o espaço habitualmente ocupado por ouvidos mais exigentes que se deixam envolver pela criatividade e diversidade arquitectónica destes exercícios formais vibrantes, quentes, estruturalmente sinuosos e elásticos, onde brilha a complexidade mas nunca chega a inacessibilidade.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:13 link do post
19 de Dezembro de 2010

 

 

Esta é uma excepção aos bem-educados e habitualmente infantilizados discos para crianças (talvez fosse melhor arrumá-los na gaveta das coisas para bebés). De B Fachada não seria, aliás, de esperar outra coisa. Escreve textos criativos não necessariamente apontados aos miúdos e apoia-se em agridoces melodias viradas do avesso por instrumentos de brincar (xilofones, pianinhos e baterias de plástico), nos quais aqueles se encaixam como peças do lego. Dessas canções nasceu um magnífico manual de desobediência. B Fachada é pra meninos? Também, mas desperta a curiosidade dos pais…

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 18:58 link do post
19 de Dezembro de 2010

 

 

Don Van Vliet, aliás Captain Beefheart (15/01/1941 – 17/12/2010), foi um dos maiores músicos contemporâneos mas em quem pouca gente, contudo, reparou. Foi autor de uma obra admirável, revolucionária e excêntrica. Com Safe As Milk e Trout Mask Replica, influenciou o punk e subverteu o rock; com uma particular acidez, colou o blues ao free-jazz, sem se esquecer de, pelo caminho, apanhar os ossos quebrados do psicadelismo. Captain Beefheart reorganizou todos estes elementos, questionou regras, improvisou sobre instrumentos em vibrante delírio, projectou a sua visão para uma dimensão única e superior, e, depois do manual escrito, registou a patente de uma poética da convulsão. Puro génio.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:27 link do post
17 de Dezembro de 2010

 

 

Acompanhando a sua louvável exibição nas salas de cinema, a Lusomundo acabou de editar, em DVD, as melhores obras, e estou a medir bem as palavras, do cinema português da primeira metade do século XX. Trata-se de Douro, Faina Fluvial (de 1931) e de Aniki Bóbó (de 1942), ambos realizados por Manoel de Oliveira. Se o cinema português, com as honrosas excepções de João César Monteiro e de Pedro Costa, raramente ultrapassou a mediania ou teve relevância estética suficiente para transcender o rotineiro fado nacional, a verdade é que, naquele tempo, com Manoel de Oliveira, não foi assim. O cinema português, ou melhor, este cinema português, estava sintonizado esteticamente com o que se fazia lá fora, respirava o ar da aventura e da modernidade. Dinâmico, vibrante, aprofundando a técnica da montagem e desenvolvendo o conceito de sinfonia da cidade, Douro, Faina Fluvial, na sua modernidade mostrava já tanto em curtos vinte minutos. Aniki Bóbó era diferente mas igualmente magnífico, verdadeira assombração num mundo poético de crianças, com histórias de medos e de desejos para adultos. Um realismo poético que não deixou descendência mas dele ficou o cunho da originalidade, da laboriosa mise-en-scène e do talento emergente de um cineasta que, no futuro, assinaria uma obra desigual e incompreendida, iluminada, porém, aqui e ali, por chispas de génio.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:36 link do post
14 de Dezembro de 2010

 

 

Ainda a propósito de Luís Buñuel e do seu fabuloso legado que, pouco a pouco, surge em oportunas edições em DVD: Já em 1962, o cineasta espanhol, com o humor corrosivo e provocador de O Anjo Exterminador dizia praticamente tudo sobre a venenosa degradação das relações, e consequente perda da dignidade humana no que ela tem de mais intrínseca, de gente que fica fechada semanas a fio numa casa. Dele já se disse tudo mas não me canso de repetir: filme genialíssimo e uma das obras mais marcantes e admiráveis de todos os tempos. Um marco na cultura do século XX. Em suma, um filme que devia ser visto também por esses indigentes que perdem o seu tempo a ver e a defender programas idiotas e mal-formados sobre gente que se fecha semanas a fio numa casa, motivada apenas pela coscuvilhice, pela fama e pelo dinheiro, a qual, nas deploráveis relações sociais que aí vão crescendo, revela à sociedade o vazio absoluto de quem nada tem para dizer. Um verdadeiro e indigno acto de má-fé legitimado, contudo, pela mentalidade tacanha e bisbilhoteira do portuguesinho medíocre.

publicado por adignidadedadiferenca às 00:18 link do post
12 de Dezembro de 2010

 

 

Confesso que me faz um pouco de confusão haver quem pretenda transformar o senhor Julian Assange e o seu WikiLeaks numa bandeira dos defensores da liberdade de expressão. Parece-me mais um preocupante mas esclarecedor sinal dos tempos, onde prevalece a ausência de critério para distinguir o que deve ser público daquilo que nunca deverá sair da esfera privada. Mas também não fiquei propriamente surpreendido. Nesta sociedade «pós-moderna» pisam-se desavergonhadamente conceitos éticos e morais, invade-se a privacidade das pessoas sob qual pretexto, sobretudo o do interesse público – tudo deve ser sabido por todos, nada deve ser privado. Pois bem, eu continuo a acreditar na existência de assuntos que, pela sua seriedade, merecem continuar na esfera do privado, designadamente quando mexem com questões tão sensíveis como a sobrevivência da civilização ocidental, o terrorismo e o perigo nuclear. Para terminar, não quero deixar de referir que, afinal, depois de tantas revelações, o rei vai nu. O que ficámos a saber, o tal secretismo inimigo da democracia - nada justifica, ao contrário do que se defende por aí, o conhecimento on-line da correspondência diplomática! -, não ultrapassa a mera coscuvilhice, a mais vil bisbilhotice. Mas fico cada vez mais preocupado com esta tendência para receber de braços abertos a exposição pública da nossa intimidade. Liberdade da expressão? Claro, mas sem esquecer o respeito por princípios éticos e morais que em circunstância alguma devem ser abandonados, sob pena de caminharmos a passos largos para o abismo.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 13:05 link do post
12 de Dezembro de 2010

 

 

Magic Chairs, dos dinamarqueses Efterklang, é, neste final de ano, o mais belo e guardado segredo da música pop contemporânea, onde convivem naturalmente sensibilidade e concisão pop, textura dramática, espelhos de repetição, uma rigorosa mise-en-scène clássica, complexidade melódica e instrumental. Tudo superiormente coordenado por uma subtil mas essencial experimentação que o transforma num dos mais superlativos discos do ano.

 

Modern Drift

publicado por adignidadedadiferenca às 12:55 link do post
10 de Dezembro de 2010

 

A manutenção da paz define as actividades da ONU para criar os alicerces da paz e os instrumentos para os consolidar. Abrange a reintegração de ex-combatentes na sociedade civil, a reforma do sector de segurança, a promoção do respeito pelos direitos humanos, assistência no desenvolvimento da democracia, resolução de conflitos e técnicas de reconciliação. O sistema da Carta das Nações Unidas prevê três vias para ajudar os países a alcançar a paz: A primeira é o desarmamento (art.º 26.º). Trata-se da forma mais radical de tornar a ruptura da paz fisicamente impossível, permite a mobilização das importâncias afectas a fins militares para outros fins, tais como o desenvolvimento económico, social e cultural. A segunda via é a resolução pacífica de conflitos (art.º 33.º e seguintes). Esta via pretende evitar que os conflitos degenerem em rupturas de paz ou, caso já tenha acontecido, pretende que o conflito não se agrave. As partes procurarão uma solução através da negociação (envolvimento directo entre as partes), do inquérito (averiguação da matéria de facto), da mediação (intervenção de uma terceira entidade ou individualidade para propor uma solução), da conciliação (recurso a uma comissão independente para reconciliar as partes), da arbitragem (as partes conferem a um ou mais terceiros, por compromisso arbitral, a faculdade de encontrar uma solução no ordenamento jurídico) ou da solução judicial (a questão é submetida a um tribunal com competência para tratar de conflitos com carácter jurídico). Se uma destas medidas não puser termo ao conflito, a carta prevê, como terceira via, mediadas díspares que compreendem as medidas provisórias (art.º 40.º), as não militares (art.º 41.º, conjugado com o art.º 39.º) e as militares (art.º 42.º).

 

 

As provisórias são meras recomendações do Conselho de Segurança que não implicam qualquer condenação. As não militares são medidas económicas ou diplomáticas, ganhando as primeiras mais impacto sobre o Estado infractor. Por fim, as medidas militares aplicam-se, se as anteriores se revelarem inadequadas, na utilização das forças aéreas, navais ou terrestres para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacional. A Carta das Nações Unidas confere ao Conselho de Segurança o poder para empreender acções colectivas com vista à manutenção da paz e da segurança internacional. O Conselho de Segurança pode autorizar que organizações regionais ou coligações de países dispostos a intervir desempenhem funções de manutenção ou de imposição da paz.

 

Trabalho apresentado na cadeira de Direito Internacional Público.

publicado por adignidadedadiferenca às 00:22 link do post
06 de Dezembro de 2010

 

 

Cinema ou literatura (a propósito de um texto que escrevi numa caixa de comentários neste blogue)? «Quem afirma que um livro é sempre melhor que um filme ou vice-versa das duas uma: ou não percebe nada de literatura ou nada de cinema, ou então não gosta de uma ou não gosta do outro. São duas formas de expressão artística que se complementam mas devem ser vistas e analisadas à luz de parâmetros distintos. Dão mais lugar à imaginação as geniais elipses do cinema fordiano, por exemplo, do que centenas e centenas de livros que já li (e alguns muito bons). Trata-se de um conflito que não existe ou, no mínimo, é mais aparente que real. Os critérios de avaliação (cinematográficos e literários) nada têm que ver um com o outro. E esta afirmação vale também para as restantes formas de expressão artística. Passe o simplismo, é quase como querer comparar uma sala com uma cozinha. Um conselho para quem fica na dúvida entre cinema e literatura: devorem e tentem compreender os dois.»

 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 13:29 link do post
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