a dignidade da diferença
30 de Julho de 2010

 

Music for 18 Musicians, Steve Reich and Musicians, 1997

   

 

Steve Reich, compositor americano, fez estudos na Julliard School e no Mills College, em Oakland, entre 1968 e 1963, e estudou composição com Berio e Milhaud. Foi um dos precursores do minimalismo e da música electrónica, criando, inclusive, o seu próprio estúdio de música electrónica (Kennedy, Michael, Dicionário Oxford de Música, Dom Quixote, Lisboa, 1994). 

Colocada, por vezes, lado a lado com a obra do compositor Philip Glass (um compositor particularmente interessante na fase inicial da sua carreira), a música de Steve Reich é, quanto a mim, muito mais complexa e os padrões rítmicos bem mais variados. No seu melhor, é uma música intensa assente numa sucessão lenta de harmonias que só aos ouvidos pouco educados parece repetitiva. 

É o que acontece nesta magnífica gravação de uma das suas obras fundamentais, Music For 18 Musicians, de 1976, a qual consiste na releitura do próprio autor efectuada em finais de 1996. Trata-se de uma interpretação brilhante e obsessiva onde todos os detalhes são trazidos e revelados à superfície por um “ensemble” impetuoso que hipnotiza, fascina e entusiasma quem escuta esta música até ao fim. 

Uma obra fundamental de um compositor essencial para se compreender grande parte da música contemporânea.

 

O início da obra de Reich, interpretada em 2008.

 

27 de Julho de 2010

 

Por causa das razões que apontei em 5 de Janeiro de 2009 sobre esse magnífico punhado de contos O Llano Em Chamas – a verdadeira jóia da coroa -, mas também devido a esse assombroso romance que é Pedro Páramo e à igualmente imprescindível novela póstuma O Galo de Ouro, a edição da obra completa de escritor mexicano Juan Rulfo (1917-1986) é uma obra de aquisição obrigatória. 

O livro intitula-se Obra Reunida, e recolhe tudo o que Rulfo escreveu, ou seja, pouco mais de 300 páginas. É o que há, e não vale a pena esperar por mais, mas o pouco que existe chega para tornar esta uma das mais esplêndidas criações literárias do século XX, cujo contributo foi essencial para a renovação da literatura hispano-americana. 

Admirado por Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Juan Carlos Onetti, Octávio Paz ou Gabriel Garcia Márquez, do qual se pode ler o belíssimo apontamento Breves nostalgias sobre Juan Rulfo, espera-se que a publicação desta obra ofereça a oportunidade de Rulfo ser admirado do mesmo modo no nosso país. E ganhar, pelo menos, o estatuto dos referidos escritores que tanto o elogiaram.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 20:20 link do post
26 de Julho de 2010

 

Alain Delon, uma recordação sobretudo pelos inesquecíveis trabalhos em Rocco e os Seus Irmãos e O Leopardo, ambos filmes de Luchino Visconti, sem esquecer o notável Eclipse de Michelangelo Antonioni. Muito mais tarde, participou no belíssimo, silencioso e pouco visto Nouvelle Vague de Jean-Luc Godard. Um actor admirável.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 15:30 link do post
26 de Julho de 2010

 

Como evitar, na literatura, os lugares-comuns? No delicioso Como Proust Pode Mudar a Sua Vida – publicado pela Dom Quixote e traduzido por Sónia Oliveira -, Alain de Botton dá-nos um magnífico exemplo. Obviamente que umas pitadas de génio ajudam e muito. Aqui fica o excerto, retirado do capítulo Como Exprimir as Emoções. Uma lição magistral:

 

«Em 1904, porém, Gabriel abandonou a vida nocturna para tentar fazer uma incursão pela literatura. O resultado foi um romance, O Amante e o Médico, cujo manuscrito Gabriel enviou a Proust mal o terminara, com um pedido de comentários e conselhos. (…) Aparentemente o livro estava repleto de lugares-comuns: “Existem algumas paisagens grandes e bonitas no teu romance”, explicou Proust, avançando delicadamente, “mas por vezes apeteceria que estivessem pintadas de uma forma mais original. É bem verdade que o céu está incendiado ao pôr-do-sol, mas isso já foi dito demasiadas vezes, e o brilho suave da Lua é uma maçadora trivialidade.” (…) O problema dos lugares-comuns não é que contenham ideias falsas, mas o facto de serem articulações superficiais de ideias muito boas. Os lugares-comuns são prejudiciais na medida em que nos fazem acreditar que descrevem adequadamente uma situação apesar de tocarem apenas a superfície. (…) A Lua que Gabriel mencionou teria com certeza um brilho suave, mas deveria ser muito mais que isso. Quando o primeiro volume do romance de Proust foi publicado (…) será que Gabriel (…) se deu ao trabalho de reparar que Proust inclui também uma lua, mas evitou dois mil anos de discursos prontos-a-usar sobre a Lua, criando uma metáfora invulgar para melhor captar a realidade da experiência lunar?

 

 

Por vezes no céu da tarde passava uma Lua branca como uma nuvem, furtiva, sem brilho, como uma actriz fora da sua hora de representar e que, da sala, com roupa de sair, observa por um instante os seus companheiros, encoberta, sem querer atrair as atenções para si mesma.»

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:37 link do post
23 de Julho de 2010

 

Eis um óptimo exemplo de música portuguesa personalizada e sem fronteiras, libertária e contra-corrente, inequivocamente inspirada nos Pop Dell’ Arte e nos Mler Ife Dada. O resto é trabalho de autor na confecção de uma pop de feição experimental, alimentada por improváveis e saltitantes arritmias sonoras, secura e rugosidade q.b., magnificamente encenada e pronta a ser lançada como arma de combate.

Depois da estreia em 2008 com Qorn Pop Garden, os AbztraQt Sir Q confirmam, com o novíssimo Extimolotion, um dos percursos mais entusiasmantes e singulares da música portuguesa contemporânea, assente numa necessidade elementar de fuga ao óbvio, num apurado sentido estético, prazer e fé ilimitada no poder da música. 

 

 Que bien ganado

publicado por adignidadedadiferenca às 04:01 link do post
22 de Julho de 2010

 

«Não junto a minha voz aos muitos alarmistas que entendem que a justiça atravessa a maior crise de sempre, que está moribunda A crise da justiça é da sua própria natureza enquanto insatisfação na busca e realização do ideal que faz da Justiça uma virtude: vontade constante e perpétua de dar a cada um o que lhe pertence.

A crise da justiça participa da crise das demais instituições: da definição e hierarquização dos valores que deve realizar e da concordância prática da sua realização, sobressaindo para o comum dos mortais a transparência e a celeridade.
A justiça deve ser transparente, deixando perceber os conflitos ideológicos que subjazem na definição do “suum” de todos e de cada um, desde a sua consagração em lei à interpretação da própria lei. Numa sociedade pluralista e dinâmica tudo ou quase é controvertido ideologicamente e tudo é precário como o são as maiorias de opinião: são questionadas as leis postas e debatidas também a sua interpretação e modos de realização prática. Esta inconstância do legislador, do intérprete e do aplicador das leis é a democracia em acção. Alguns prefeririam a estabilidade e a certeza; prefiro a instabilidade e incerteza democráticas, fruto do esforço plural na busca insatisfeita do bem de todos.
A justiça deve ser célere, mas não tanto que a pressa possa sacrificar outros valores como a verdade e a segurança. O ideal democrático exige o respeito incondicional dos direitos de todos e por isso que seja necessário conciliar a diligência com a prudência, virtudes que faltam muitas vezes a quem mais falta faz. Acrescem o aumento da conflituosidade própria das comunidades em mudança e de auto consciencialização dos direitos, a falta de confiança nas autoridades, que é questão cultural, e a escassez de meios sobretudo em tempos de dificuldades económicas.

 

 
A boa justiça é tarefa de todos. A democracia é exigente; intolerante com a incompetência e a displicência, mas complacente com o conflito. Não há que temer a controvérsia, que é criativa; não há que procurar o secretismo que só serve para esconder a realidade e proteger desvarios; não nos devemos impressionar com a proliferação das leis porque são na circunstância histórica a busca do bem comum, a expressão temporal do ideal de justiça. Celeridade, pois, quanto possível, pelo ajustamento constante da estrutura judiciária e dos meios humanos e materiais às novas e crescentes necessidades de intervenção porque neste nosso tempo dificilmente toleramos o exagero da demora e a que não seja justificada pela necessidade de ponderação do conflito e para atender aos argumentos das partes em confronto só exaspera as injustiças. Exige-se menos folclore e mais reserva na exposição das opiniões divergentes por parte dos profissionais para maior credibilidade da instituição, mas sem secretismos intoleráveis numa sociedade aberta.
A justiça não está só; participa e reflecte a nossa vivência democrática. A mudança está em curso; lenta, demasiado lenta, é certo, e atabalhoada às vezes. Para implantar a cultura democrática são precisas várias gerações, mas sou optimista, confio que estamos no bom caminho, que vamos lá!»

 

O ESTADO DA JUSTIÇA
Germano Marques da Silva, Jornal de Notícias de 13.07.2010

publicado por adignidadedadiferenca às 02:00 link do post
20 de Julho de 2010

 

Um livro notável apropriado para quem, como eu, quer tornar-se melhor leitor (aceitando, a propósito, a óptima sugestão da Ana Cristina Leonardo).

 

«A Mecânica da Ficção é um estudo brilhante sobre os elementos principais da ficção, tais como a narrativa, o detalhe, a caracterização, o diálogo, o realismo e o estilo. Um dos mais proeminentes críticos dos nossos tempos disseca estes mecanismos e coloca uma série de questões fundamentais: o que queremos dizer quando dizemos que conhecemos uma personagem ficcional? Quando é que uma metáfora é bem conseguida? Será que o Realismo é realista? E por que é que tantas vezes os desfechos dos romances são uma desilusão? De Homero a Beatrix Potter, da Bíblia a John le Carré, A Mecânica da Ficção estuda as técnicas ficcionais, enquanto constitui também uma história alternativa do romance.»

  

Sinopse retirada da contracapa da edição portuguesa (Quetzal Editores)

 

publicado por adignidadedadiferenca às 02:44 link do post
10 de Julho de 2010

 

Sex Pistols: Holidays in the Sun

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:28 link do post
07 de Julho de 2010

 

 

Um disco prodigioso de Raymond Scott, um dos nomes maiores da música electrónica (e da música em geral, obviamente). Invenção, plasticidade, inovação e ousadia estética sustentam uma música que, ainda hoje, soa como nova, a qual se estende por abstracções rítmicas, ruídos e novos sons numa formidável aventura sonora. Uma obra, por vezes, difícil mas inesquecível, fruto de uma criatividade sem limites dedicada a um género musical, regra geral, injustamente menosprezado.

E, já agora, aproveito para agradecer ao Victor Afonso por me ter levado a revisitar a obra de Scott, ao publicar um post sobre o compositor no seu blog O Homem Que Sabia Demasiadoo qual nunca é demais aconselhar.

 

Limbo, The Organized Mind

publicado por adignidadedadiferenca às 01:23 link do post
04 de Julho de 2010

 

Nove anos após o magnífico Life on a String, eis que chega até nós o mais recente e esperado trabalho da norte-americana Laurie Anderson: Homeland. É uma visão profunda e razoavelmente desencantada do mundo contemporâneo. Uma reflexão musical acentuadamente política, assente numa corrente estética refém da poesia, do vídeo, do palco, do canto falado e da electrónica, isto é, uma combinação de elementos que voltam a contribuir para consolidar a singular e vanguardista carreira artística desta autora essencial. Único e obrigatório.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 03:29 link do post
01 de Julho de 2010

 

Jean Auguste Dominique Ingres, O Banho Turco, 1862

 

«Não restam dúvidas que Tamara de Lempicka deve ter passado algum tempo a estudar O Banho Turco antes de pintar os seus grupos de nus. Aquela obra é, na verdade, um verdadeiro fogo-de-artifício, uma orgia de uma audácia raramente igualada, uma exaustiva antologia da nudez: mulheres que se submetem, que se perfumam, que mostram os seios, que se entregam às mais extravagantes carícias, que se entrelaçam umas nas outras… Não são apenas as heroínas de Tamara, mas também as de Ingres que se sentam, aguardando o prazer ou na contemplação de ardores já experimentados.»

  

Gilles Néret, Tamara de Lempicka, 2004, Taschen, Traduzido por Alexandre Correia

 

Tamara de Lempicka, Mulheres Banhando-se, c. 1929

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:45 link do post
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